Web Biology - Capitulo 35





opcional: coloquem Pixie Lott – Band Aid pra carregar e dêem play quando a letra começar


Respire. 
Mantenha a calma. 
Pense. 
Tudo vai dar certo. 
Agora... Hora de reagir. 
Voltei a fixar meus olhos na diretora, e entrei na sala, fechando a porta atrás de mim. Caminhei rapidamente até a cadeira vazia, que graças a Deus, ficava na ponta, ao lado da de Thur. Pelo menos eu não precisaria ficar perto de Mica, muito menos de Kelly. 
- Imagino que saibam por que estamos aqui, certo? – a diretora Scott disse, olhando para mim e para Thur, que assentiu – Não deve ser surpresa para nenhum dos dois o fato de que o professorBorges fez algumas acusações a seu respeito, então. 
Engoli em seco, vendo-a nos encarar incisivamente. Um silêncio tenso caiu sobre nós, até que Thur o quebrou. 
-Ainda assim, eu gostaria de ouvir o que o professor Borges tem a dizer – ele falou, extremamente sério, e ela ergueu uma sobrancelha, como se achasse seu pedido uma perda de tempo – Receber uma punição sem ouvir as acusações seria o mesmo que assinar um contrato sem lê-lo. 
Após alguns segundos de reflexão, a diretora pareceu convencer-se. 
- Por favor, professor Borges, repita o que me disse há pouco – ela assentiu, voltando seu olhar para Mica, assim como todos nós. Ele me lançou um rápido olhar antes de começar a falar, e eu me senti estranhamente enjoada. 
Talvez prevendo o que viria. 
- Eu fui ameaçado. 
Franzi a testa, sem me recordar do momento em que tal fato havia acontecido. Talvez porque ele não tenha acontecido
- Ela sempre teve essa obsessão por mim, desde que comecei a dar aulas para a sua turma – Mica prosseguiu, e eu senti que precisaria de muito esforço para que meu café-da-manhã, ainda sendo digerido em meu estômago, não fosse parar sobre a mesa da diretora – Eu sempre tentei evitar qualquer tipo de aproximação desnecessária, até o dia em que ela se cansou de meu comportamento profissional e ameaçou me acusar de abuso sexual se eu não aceitasse um relacionamento íntimo. 
Meu rosto estava congelado numa expressão incrédula, ultrajada e revoltada. Eu só podia estar delirando... Não havia outra explicação plausível. 
- Eu preciso do emprego, não tenho a vida ganha – ele continuou, com a expressão inocente, e minhas mãos se fecharam em punhos em torno dos apoios laterais da cadeira – Por isso, temendo que ela realmente me denunciasse, eu aceitei sua condição, mas sempre pensando numa forma de fazê-la voltar atrás e retirar sua ameaça. Felizmente, após algum tempo, convencida de que eu jamais poderia retribuir seus sentimentos, ela me libertou de sua chantagem. Infelizmente, porém, seu foco desviou-se para outro professor. 
- No caso, o professor Aguiar – a diretora disse, e Mica assentiu. Meus olhar estava inconscientemente cravado nele durante todo o seu falso depoimento, e eu não me surpreenderia nem um pouco se ele e Kelly começassem a pegar fogo dali a alguns segundos devido ao meu ódio. Olhei rapidamente para Thur, vendo-o encarar a mesa com o rosto isento de expressão. 
Ele já esperava truques baratos como aquele. Eu também já. Mas não tão baratos como simplesmente jogar toda a culpa para cima de mim. E ainda por cima, trazer Kelly, cuja presença eu ainda não entendia. 
- Não foi muito difícil para ela fazê-lo corresponder seus sentimentos, já que seu histórico entre as alunas do colégio sempre foi bastante comentado – ouvi Mica falar, e decidi adotar a tática de Thur e não olhar mais para ninguém; mantive meus olhos baixos e o maxilar trancado, recusando-me a assistir àquele momento deplorável - E honestamente, diretora, eu não creio que seja esse o tipo de profissional que uma instituição de ensino tão renomada queira ter em seu corpo docente. Além do fato de que a srta. Blanco claramente necessita de suporte psiquiátrico, afinal, ninguém em seu perfeito estado mental faria o que ela fez. 
Vai pro inferno, desgraçado, minha consciência dizia, e eu respirei fundo para não externar as palavras. Virei meu rosto na direção oposta à de Mica e todos os outros presentes, sentindo meu corpo inteiro queimar de ódio. Filho de uma senhora puta. 
- O que os senhores têm a dizer? – Maggie perguntou alguns segundos depois, e nem precisei olhá-la para saber que se referia a mim e a Thur. Ele suspirou, preparando-se para falar, porém as palavras simplesmente irromperam de minha boca, sem que eu sequer me desse conta de que elas estavam subindo por minha garganta. 
- Se eu dissesse que é tudo mentira e que quem precisa de suporte psiquiátrico é ele, a senhora acreditaria em mim? 
A diretora piscou algumas vezes, surpresa com a minha resposta rápida, e eu a encarei com determinação. Se ele achava que conseguiria nos afundar sem que eu lutasse contra isso, estava muito enganado. Ele podia ter sua determinação, mas ela nem se comparava à minha. 
Eu tinha por quem lutar. Ele só tinha a si mesmo. 
- Acreditaria – ela disse, devolvendo meu olhar determinado com firmeza – Se fosse apenas a sua palavra contra a do sr. Borges. O que não é o caso. 
Cerrei levemente meus olhos, sem entender, e foi então que uma quinta voz finalmente se pronunciou, explicando o motivo de sua presença. 
- Eu vi o professor Aguiar e a Blanco se beijando no laboratório de biologia – Kelly mentiu, me lançando um olhar de censura. Fechei meus olhos por um breve momento, soltando um risinho descrente, e voltei a baixar meu olhar. Sério mesmo, Smithers? 
- Há uma testemunha contra vocês – a diretora observou, entrelaçando seus dedos por sobre a mesa – E isso não pode ser ignorado. 
- É mentira – Thur se pronunciou, sem perder a inexpressividade, porém com muita certeza do que dizia – Nós nunca fizemos nada nos laboratórios. Mesmo que ela seja uma suposta testemunha, é a minha palavra contra a dela. 
- Ah, é? E você tem como provar que seu argumento é verdadeiro? – Kelly perguntou, esquecendo-se de comportar-se educadamente. 
- Você tem como provar que o seu é? – rebati, encarando-a com desprezo e destruindo sua autoridade num segundo. Thur não estava sendo totalmente sincero, mas nunca havíamos sido flagrados no laboratório, sempre nos precavíamos. Aquele testemunho era absolutamente inconcebível. 
- Com licença, diretora Scott – ouvi uma voz masculina dizer da porta, e todos nos viramos para ver o inspetor – Desculpe interromper. 
- Tudo bem – ela bufou, incomodada com a intervenção – O que houve? 
- A mãe de uma aluna acabou de ligar para a secretaria – ele explicou, e eu franzi a testa ao ver duas cabecinhas familiares por sobre seu ombro – Ela disse que está vindo para o colégio falar com a senhora. 
Prestei pouca atenção em suas palavras, mais concentrada em saber o que raios Sophia fazia do lado de fora da secretaria, acenando discretamente para mim e acompanhada de Amy Houston. Totalmente confusa, olhei rapidamente para Thur, que ostentava a mesma expressão perdida que eu. 
- Esta manhã eu não posso atender mais ninguém – a diretora falou, balançando negativamente a cabeça – Peça a ela para vir amanhã. 
- Com licença, diretora – Sophia chamou da porta, e o inspetor pareceu irritado com a intromissão – A mãe que está vindo é a dela. 
Arregalei os olhos ao vê-la me indicar com um aceno de cabeça, e olhei novamente para Thur, recebendo um olhar surpreso de volta. Pelo visto, ele não sabia muito mais do que eu, e isso me confortava de certa forma. 
- A sra. Blanco? – Maggie perguntou, e logo após ver Sophia assentir, ela dirigiu seu olhar para mim – Ela sabe de tudo isso? 
- Ela sabe a verdade – corrigi, encarando a diretora com firmeza – E tudo isso não é a verdade. 
- Ela não é a única – novamente Sophia disse, olhando com certa indignação para o inspetor que bloqueava a porta, e logo em seguida invadindo a sala com Amy em seu encalço – Eu e a srta. Houston também sabemos. 
Olhei para Sophia, em pânico, e a vi esboçar um sorriso satisfeito. Com toda a certeza do mundo, eu havia perdido algo. 
- Pois não, senhoritas – a diretora Scott assentiu após alguns segundos de hesitação, e dispensou o inspetor com um aceno de mão – Sou toda ouvidos. 
- Se incomoda em começar? – Sophia perguntou, virando seu rosto para Amy, assim como todos os outros presentes. Notando que era o centro das atenções, ela respirou fundo antes de falar. 
- Eu ouvi uma conversa entre os dois há alguns meses... Numa sala vazia – ela começou, parecendo tímida, porém bastante certa do que dizia – Eu saí da sala para ir à enfermaria tomar um comprimido para dor de cabeça, e assim que apareci no corredor, vi o professor Borges puxando Lua pela mão para uma sala perto dos banheiros. Fiquei curiosa e me aproximei para ouvir a conversa deles por trás da porta, e só consegui escutar alguns pedaços. E bem... Eu ouvi claramente o professor Borges dizer que queria beijá-la. 
- Eu não admito que uma aluna faça uma acusação dessas sem poder provar! – Mica exclamou, exaltado, e a diretora ergueu uma mão, ordenando que ele se acalmasse. 
- Ninguém aqui tem provas concretas, professor – ela esclareceu, olhando para Amy em seguida – A senhorita tem certeza do que disse? 
- Absoluta – Amy confirmou, e só então eu me dei conta de que mal respirara desde que ela começara a falar. Se eu não estava enganada, aquele momento ocorrera no dia seguinte ao nosso primeiro beijo. Como fomos tão descuidados a ponto de permitir que alguém nos visse e ouvisse? 
Minha mente mergulhou em questionamentos, mas parte dela manteve-se atenta a tudo que acontecia à minha volta. A diretora assentiu, respirando fundo, e olhou para Sophia. 
- E a senhorita... O que tem a dizer? 
- Será que eu posso me sentar? – ela perguntou, fazendo uma caretinha, e eu quase ri da forma confiante através da qual ela lidava com a situação – A história é um pouco longa, e eu faço questão de ser bem detalhista. 
- Eu vou buscar duas cadeiras em alguma sala vazia – Thur se ofereceu, levantando-se antes mesmo que a diretora se pronunciasse, e todos se mantiveram quietos até que ele retornasse. 
- Muito obrigado, professor, o senhor é muito gentil – Sophia agradeceu enquanto ela e Amy se acomodavam, sorrindo para Thur e logo em seguida lançando um rápido olhar de desprezo para Mica – Agora eu posso contar tudo. Hm... Por onde começo? 
Quinze minutos se passaram, durante os quais a voz de Sophia fora praticamente soberana na sala. Apenas a diretora fazia algumas perguntas, que eram muito bem respondidas, enquanto o resto dos presentes, incluindo eu, ouvia em silêncio. Observei o rosto de Mica, já um pouco nervoso diante de todo o relato verídico e convincente de Sophia, e meu coração acelerou. Desviei os olhos paraThur, que olhava atentamente de Sophia para a diretora, e então olhei para Amy, cochilando sobre o próprio ombro. Típico. 
- Com licença, diretora Scott – o mesmo inspetor interrompeu, e todos nós o olhamos – A sra. Blanco acabou de chegar. 
- Peça-a para entrar, por favor – Maggie pediu, e meu coração quase parou ao ver minha mãe entrando, poucos segundos depois, na pequena sala já tão cheia de gente. 
- Bom dia, diretora – ela sorriu, sem o menor sinal de nervosismo ou raiva, e logo em seguida olhou para Thur – Olá, querido. Como vai? 
- Bem, e a senhora? – ele disse imediatamente, sorrindo de maneira amigável, e ela assentiu, respondendo-o. 
Espera um pouco aí. 
O que diabos eu havia perdido afinal? Eu tinha ficado desacordada por algumas semanas? Desde quando minha mãe conhecia Thur? 
- Bom dia, sra. Blanco – a diretora cumprimentou, alguns segundos depois, parecendo tão pega de surpresa com a simpatia entre os dois quanto eu e Mica, que mal conseguia disfarçar sua indignação – Por favor, sente-se. 
- Fique à vontade – Thur adiantou-se, ficando de pé e fazendo um gesto para que minha mãe ocupasse o seu lugar. 
- Muito obrigada – mamãe falou, obedecendo-o e dando um breve sorriso para mim enquanto Thur parava atrás de minha cadeira e apoiava suas mãos no encosto dela. Apenas pisquei, olhando paraSophia e vendo-a prender um sorrisinho. A voz da diretora me trouxe de volta à realidade, e eu me concentrei para guardar minhas dúvidas e prestar atenção nela. 
- Pois bem... A que devo sua presença? 
- Primeiramente, eu trouxe alguns bilhetes que encontrei no criado-mudo de minha filha – ela começou, mexendo em sua bolsa e retirando alguns pedaços de papel dobrado dela, logo depois colocando-os sobre a mesa - São bilhetes do professor Borges, pelo que pude perceber. E se a senhora ler qualquer um desses, terá como se certificar de que a caligrafia é dele. 
Encarei os bilhetes sobre a mesa, totalmente perplexa. Como minha mãe os havia descoberto? Tentando encontrar uma resposta racional, apenas observei a diretora abrir um deles e lê-lo em voz alta:

Tenho uma surpresa pra você nesse fim de semana. Pode ir se preparando, vou te seqüestrar de sexta a domingo! Te amo. 

Eu ainda me lembrava desse. Ele havia me dado antes de irmos à casa de praia. Olhei rapidamente para Mica, e por um segundo o choque e o pânico percorreram seu rosto. 
- Isso não prova nada – ele protestou, sem se deixar abater pela súbita prova contra si – Quem garante que eu os escrevi, mesmo se a caligrafia for minha? Esses bilhetes podem ter sido forjados! E mesmo que eu os tivesse escrito, quem prova que foram para ela? 
A diretora não reagiu, apenas analisou os outros bilhetes em silêncio. Lancei um rápido olhar a Sophia, que piscou para mim, e senti uma ansiedade enorme me preencher. Tinha dedo dela naquilo, sem dúvida. 
- O senhor tem como confirmar que não são seus? – Maggie perguntou a Mica, imparcial, e ele simplesmente se manteve imóvel, sem a capacidade de responder – Então eles são até que possa provar o contrário. 
- Eu vim para colocar um ponto final nessa história – mamãe disse, objetiva e cordial – Todos já estamos muito bem informados sobre as várias versões dos fatos, e meu posicionamento quanto a elas é mais do que nítido. Portanto, agora a decisão está em suas mãos, Scott. Que medidas serão tomadas? 
- O colégio tem regras, sra. Blanco – Maggie suspirou, recostando-se em sua cadeira – Diante dos fatos apresentados, preciso acatar à que melhor enquadrar os acontecimentos. 
- Que seja... Minha filha não será prejudicada, tenho certeza disso – minha mãe sorriu, como se agradecesse por uma xícara de chá, e todos na sala pareceram impressionados com a sutil, porém intensa persuasão em sua voz – A senhora é uma profissional muito prudente, saberá como punir as pessoas certas. 
- Concordo plenamente – Mica sorriu, sem se desfazer de sua pretensão apesar de praticamente encurralado, e mal completou sua frase, recebeu uma belíssima resposta de mamãe: 
- Quando eu disse pessoas certas, estava me referindo a você. 
- Por favor, sem ofensas – a diretora pediu, levando as pontas dos dedos às têmporas – Alguém mais tem algo a dizer? 
Ninguém se pronunciou, e após um suspiro, ela prosseguiu: 
- Bom, se não há mais nada a ser dito, peço a todos que se retirem. Ainda vou precisar de algumas informações e de alguns dias para analisá-las e tomar a decisão mais apropriada. Voltarei a entrar em contato em breve. Enquanto isso, uma coisa fica estabelecida: Aguiar, você está afastado do corpo docente por tempo indeterminado. 
- Por que só ele? – perguntei, franzindo a testa enquanto todos se levantavam. 
- O professor Borges pediu demissão antes de fazer suas acusações – a diretora esclareceu, e eu me senti burra por não ter deduzido aquilo - E quanto à senhorita... Considere-se dispensada das aulas hoje. Amanhã conversaremos mais. 
Todos assentimos, e nos retiramos da sala rapidamente. 
- A senhora foi brilhante! – Sophia sussurrou em êxtase assim que fechei a porta da diretoria atrás de mim, batendo palminhas para minha mãe, que sorria de leve para ela – Botou todo mundo no chinelo! 
- Minha filha não fez nada que possa ser julgado errado pelas regras da escola - a ouvi dizer, alto o bastante para que Mica e Kelly, já a alguns passos de distância, também a escutassem – Estou com a consciência tranqüila. 
- Seja como for, ela é uma vadia – Mica cuspiu, encarando-a com raiva - Meus parabéns. 
- E você é um broxa que não deu conta dela e a obrigou a procurar quem desse – Thur sorriu cinicamente, sem conseguir se conter, e Sophia caiu no riso. Mica não respondeu, talvez para não se deixar tirar do sério, enquanto Kelly tentava acalmá-lo e nos olhava com desprezo conforme os dois desciam as escadas. 
- Deixa pra lá – pedi, ainda um pouco atordoada, enquanto parávamos à frente do elevador. Amy já não estava mais conosco; eu mal a havia visto deixar a sala, mas não me importava muito com seu paradeiro. Ela já havia ajudado bastante para uma simples colega distante, e eu preferia agradecê-la num dia menos atribulado. 
- Claro que não, é um absurdo um homem feito ser tão mal educado a esse ponto! – mamãe interferiu, apertando o botão do elevador com uma força excessiva – Ele errou tanto quanto você e ainda quer agir feito o dono da verdade? Oras! 
Respirei fundo, tentando aliviar um pouco o peso da preocupação em minha cabeça. Não precisei de muito tempo para deduzir que a única coisa que me traria um pouco de satisfação seria saber que esquema havia sido armado para que até minha mãe surgisse na diretoria na hora certa. Precisei de menos tempo ainda para disparar tal pergunta. 
– Será que agora alguém pode me explicar o plano maligno? 
- Maligno? Só se for pro Mica, amiga! – Sophia reivindicou, fazendo cara de brava, e eu sorri discretamente, ouvindo Thur e mamãe soltarem risinhos baixos – Não foi plano maligno nenhum, apenas coincidências convenientes. Eu cheguei cedo e resolvi subir para estudar um pouco. No caminho, encontrei o Thur, e ele me contou que a diretora o havia chamado à sala dela. 
- Eu já sabia o que ela queria, porque vi Kelly e Mica chegarem mais cedo que o normal e subirem juntos, aos sussurros... Obviamente, fiquei desconfiado – Thur continuou, aproveitando-se da pausa de Sophia - Quando o inspetor veio me chamar, poucos minutos depois, foi só ligar os fatos. 
- Ele me disse o que estava acontecendo antes de entrar na diretoria e me pediu para avisar sua mãe – Sophia retomou, me fazendo sentir num desses filmes em que todas as armações são rapidamente reveladas uma atrás da outra no final – Liguei pra sua mãe, e como ela ainda estava em casa, pedi que ela trouxesse os bilhetes que você guardava na gaveta do criado-mudo. Enquanto isso, revirei o colégio procurando a Amy, porque já sabia que ela podia ajudar, e a convenci a vir comigo. 
- Como você descobriu que ela sabia daquilo? – perguntei, um tanto chocada; eu realmente estava por fora dos acontecimentos – E por que não me contou? 
- Na verdade, a própria Amy veio me contar, mas só há pouco tempo – ela respondeu, e eu arregalei os olhos – Disse que estava preocupada com você, mesmo sem te conhecer direito, e não sabia se eu estava por dentro da história. Eu não te contei porque você já estava com a cabeça cheia, e ela prometeu não contar a ninguém. Vamos combinar, a quem ela se sentiria interessada a contar isso? Ela nem sequer fala com as pessoas! 
- Foi um risco mesmo assim – comentei, ainda sem acreditar na participação de Amy naquele rolo – Bom... De qualquer forma, já passou. 
- Preciso voltar pra sala, mas antes passo na sua e pego seu material, está bem? – Sophia disse quando o elevador finalmente chegou, e eu agradeci com um sorrisinho fraco, aliviada por não precisar passar pelas piranhas amigas de Kelly e ouvir mais alguma gracinha a meu respeito - Me esperem na saída. 
Ela subiu rapidamente os degraus, deixando que eu, Thur e mamãe seguíssemos a direção oposta de elevador. 
- Os bilhetes e os nossos testemunhos são fortes demais contra os argumentos dele e a falsa acusação da Smithers – Thur opinou enquanto descíamos, e mesmo que eu concordasse com ele, estava insegura demais para conseguir externar isso – A sua mãe saber de tudo e vir aqui te defender rendeu muitos pontos a seu favor. 
- Tem razão – assenti, olhando para mamãe e vendo-a sorrir calmamente – Obrigada por estar me apoiando... Mesmo que eu não esteja exatamente merecendo isso dessa vez. 
- O que foi que eu te disse ontem? – ela perguntou, me abraçando e logo depois apertando meu nariz, o que fez com que Thur risse de minha careta involuntária – Desde que você não queira fugir para um trailer no Colorado, te dou meu apoio. 
- Não era no Texas? – corrigi, sorrindo, e ela parou por um momento, pensando no caso. 
- Os dois, na verdade – ela riu, e eu fiz o mesmo – Por acaso, você não tem um trailer, certo, Thur? 
- Não, fique tranqüila – ele respondeu, e eu me lembrei de outra dúvida que surgira em minha cabeça dentro da diretoria. 
- Aliás... Quando vocês dois se conheceram? – cochichei, temendo ser ouvida por pessoas desagradáveis enquanto atravessávamos o pátio rumo à saída da escola – Foi um tanto chocante ver os dois se cumprimentando como se fossem amigos lá dentro. 
- Hm... Na verdade, nós não nos conhecemos – mamãe explicou, olhando para Thur e sorrindo de um jeito simpático – Mas eu deduzi quem ele era assim que cheguei, porque o outro estava com aquela garota pendurada no ombro. Logo, o que sobrou só podia ser o tal Thur Aguiar. Foi aí que eu quis quebrar as pernas de todo mundo e cumprimentá-lo como se já nos conhecêssemos. Graças a Deus ele entendeu e entrou na encenação e a diretora ficou de queixo caído com a nossa suposta familiaridade. Foi arriscado, mas funcionou, e a propósito, obrigada! 
- De nada – Thur riu, me deixando ainda mais impressionada com o esquema habilmente improvisado ao meu redor sem que eu sequer me desse conta dele – Foi uma idéia brilhante, sra. Blanco. 
- Mães se tornam gênios quando precisam defender os filhos – ela riu, e subitamente começou a revirar sua bolsa, como se seu celular estivesse tocando; e de fato, estava – Com licença, é do trabalho, preciso atender. 
Mamãe se afastou um pouco, parando na calçada a alguns metros de nós, e assim que não era mais capaz de nos ouvir, Thur sussurrou ao pé de meu ouvido: 
– Você está bem? 
Suspirei, virando-me de frente para ele, e só quando meus olhos focalizaram os seus me dei conta do quanto aquela manhã havia sido tensa. 
- Eu não sei – respondi, sendo bastante honesta – Tudo está se atropelando dentro da minha cabeça. 
- É compreensível, foram emoções demais em pouco tempo – ele murmurou, acariciando meus ombros discretamente. 
- Principalmente surpresas – ressaltei, arregalando um pouco os olhos ao me recordar de todas as barbaridades e choques pelos quais havia passado – Mal dá pra enxergar o antigo Mica no de agora... Desde as atitudes até a fisionomia, tudo está diferente. Isso me assusta. 
- Não precisa ficar assustada, não temos de que ter medo – ele murmurou, dando-me uma injeção de positivismo através de seu olhar e tom de voz – Olhe só a quantidade de evidências que apresentamos, contra apenas o suposto testemunho de Kelly! Além do mais, não temos nada a perder. Você se forma daqui a praticamente um mês, já tem notas boas o bastante para ser aprovada... E eu não faço mais questão de trabalhar aqui mesmo. 
- Vou ser bem sincera ao dizer que me sinto culpada pela sua demissão, e de certa forma eu sou mesmo – confessei, vendo-o fazer cara de tédio – Mas nós já sabíamos que isso aconteceria caso a diretora tomasse conhecimento da verdade. 
Lua, ia ser bem bacana se você sorrisse e dissesse Parabéns, você está desempregado!, só pra variar – ele revirou os olhos, encurvando os ombros em desânimo e me fazendo rir baixo – Faz uma cara melhor, não são nem oito e meia da manhã e você já parece exausta! 
- Bobão – resmunguei, sorrindo fraco de seu senso de humor inapropriado. Em resposta, ele enrugou o nariz, numa imitação perfeita (a não ser pelo nível maior de beleza) de minha expressão enfezada, e me abraçou apertado. 
- Podemos nos abraçar em público agora! – ele sussurrou, empolgado, e eu alarguei meu sorriso, retribuindo seu gesto – Vamos poder ir ao cinema, passear, andar de mãos dadas, comprar lingerie... 
- Ai, meu Deus, eu não ouvi isso – gargalhei, dando um tapinha em suas costas e afastando-me dele, notando que mamãe se reaproximava. 
- Vamos, filha? – ela perguntou, um tanto apressada – Tenho que ir pro serviço, já estou atrasada. 
- Hm... A senhora se incomoda se eu a levar? – Thur perguntou, sem jeito, e eu prendi um sorriso ao ouvir exatamente o que queria – Só preciso pegar minhas coisas na sala dos professores e já vou embora... A senhora parece estar com pressa, deixe que eu a levo para casa. 
Mamãe me olhou brevemente, hesitante, e eu devolvi seu olhar, me esforçando ao máximo para deixá-la confiante quanto à minha segurança enquanto Thur estivesse comigo. Após alguns segundos, ela apenas deu de ombros, dando um sorrisinho agradecido, porém não muito convincente. Era nítido que ela ainda tinha seus medos e incertezas com relação àquele relacionamento, e eu a entendia perfeitamente. 
- Bom... Obrigada – ela agradeceu, e Thur retribuiu com um gesto de cabeça – Foi um prazer conhecê-lo. Tchau, filha, se cuida. É pra ir pra casa, ouviu? Qualquer coisa me ligue. 
- Pode deixar, mãe – sorri, retribuindo seu abraço rápido, e a observei entrar no carro rapidamente, arrancando e sumindo pela rua logo depois. Respirei fundo, sentindo uma pontada de alívio pelo desfecho até então positivo, e me virei para Thur, abrindo um sorriso de orelha a orelha assim que o fiz. 
- Hm... Vamos recapitular – ele disse, fingindo estar pensando – Demissão já esperada: confere. Plano maligno realizado com sucesso: confere. Conquista de parte da simpatia da sogra: confere. O que mais está faltando? 
- Algumas horas sozinhos lá em casa – pisquei, abraçando-o pelo pescoço, e ele sorriu, gostando do que havia ouvido – Confere? 
- Se isso é um convite, está mais do que aceito – ele respondeu, me dando um selinho demorado, porém uma voz resmungando perto de nós me fez afastá-lo. 
- Com licença, fofuxinhos do meu coração – Sophia sorriu com simpatia exagerada, estendendo-me minha mochila, e eu a peguei, agradecida – Bem que eu queria ir embora também, mas sabe como é... Aula do Hammings daqui a pouco. 
Eu e Thur fizemos caretas apavoradas ao mesmo tempo, e os três caíram na gargalhada. 
- Obrigada por tudo, Soph – falei, olhando-a com enorme gratidão – Você foi simplesmente incrível hoje. 
- É verdade – Thur concordou, sorrindo amigavelmente – Você foi demais. 
- Ah, gente, imagina – ela negou, tímida, porém deu uma jogadinha esnobe de cabelo logo em seguida, o que só causou mais riso – Eu não podia deixar aquele corno do Mica se safar dessa e prejudicar vocês. 
- Obrigada mesmo – reforcei, e ela retribuiu com um sorriso sincero – Agora vamos antes que você leve bronca. 
Fizemos o caminho inverso, acompanhando Sophia pelo trajeto de volta à classe, e nos despedimos ao chegarmos ao andar da sala dos professores. Thur entrou rapidamente para pegar suas coisas, e eu notei que alguns alunos estavam no corredor, devido à troca de aulas. O primeiro tempo havia acabado, e geralmente a maioria dos estudantes saía de suas salas para conversar ou para esticar o esqueleto mesmo. 
- Pronto – ele disse assim que deixou a sala, já com sua mochila nas costas – Vamos dar o fora daqui. 
- Eba, fuga da escola – brinquei, percebendo alguns olhares intrigados sobre nós conforme descíamos os degraus rumo à saída, e respirei aliviada por não precisar esconder mais nada de ninguém. Minha reputação ficaria completamente manchada quando todos soubessem sobre meu relacionamento com dois professores (ou melhor, ex-professores), mas eu pouco me importava. 
Seguimos até o pátio, atraindo olhares de alguns alunos matando aula por ali, e assim que a rua se tornou visível, Thur intensificou levemente o aperto em minha mão. Franzi a testa, sem entender, e bastaram mais alguns passos para que eu entendesse seu alerta mudo. 
Na vaga à frente do Porsche prateado, Mica se preparava para entrar em seu carro. 
- Deixa ele dar um olhar torto pra você ver o que acontece – Thur murmurou, com a expressão fechada, e eu me assustei diante de sua mudança brusca de humor – Eu não tenho mais nada a perder mesmo. 
- Só entre no carro e dirija – rebati, tentando podar seus instintos homicidas subitamente aflorados. Ele havia se controlado bem até então, não queria uma explosão de violência logo agora que estávamos quase vencendo a guerra. 
Atravessamos a rua, ambos tensos demais para disfarçar, e Mica fixou seu olhar em nós dois conforme entrávamos no carro. Mais especificamente, em Thur. 
Ele realmente não devia ter feito isso. 
Mal tive tempo de entrar no carro, Thur já estava de pé novamente, caminhando na direção do antigo amigo e atual rival com uma postura ofensiva. Sem nem ter tempo de pensar, imitei sua atitude, correndo até ele e segurando seu braço. 
- Tá olhando o quê? – ele perguntou, parando à frente de Mica e encarando-o com irritação – Quer uma despedida calorosa? 
Thur, vamos embora – pedi, percebendo que o clima ficava a cada segundo mais hostil. 
- Na verdade, só estava pensando no quanto as coisas mudam – Mica respondeu, com tom de superioridade, o que só fez o punho de Thur se fechar mais ainda – Quem diria... O pedófilo redimido e a santinha depravada! 
Não foi como se eu pudesse ter evitado. O fato era que eu simplesmente não poderia, nem mesmo se quisesse, ter impedido que o braço de Thur se desvencilhasse de minhas mãos e seu punho atingisse o queixo de Mica, sem a menor intenção de preservar seu formato. Apenas observei Mica cambalear, apoiando-se na lateral de seu carro com as mãos sobre o rosto, e voltei a me aproximar de Thur, dessa vez me agarrando em seu braço numa tentativa mais empenhada de mantê-lo abaixado. 
- Como se você tivesse muita autoridade para falar alguma coisa! – ele cuspiu, totalmente tomado pela raiva, e esboçando um sorriso satisfeito ao ver que a boca de Mica sangrava – Prefiro ser um pedófilo redimido a um fracassado cagão! 
- Cala essa boca – Mica rosnou com dificuldade devido ao maxilar prejudicado, e partiu para cima de Thur, que aceitou de bom grado a reação. Novamente, meus esforços foram inúteis, e o pânico me dominou ao vê-los brigando sem poder fazer nada a não ser tentar apartá-los. E foi exatamente isso o que fiz. Busquei uma forma de me intrometer na confusão de punhos, porém não encontrei nenhuma brecha para que pudesse interferir sem levar uma bela porrada. Apenas quando Thur disparou outro soco, que fez Mica colidir contra a lateral de seu carro e cair sentado na calçada, a confusão cessou. 
- Chega! Vamos embora! – exclamei desesperada, parando à frente de Thur e empurrando-o pelo peito para longe dali, em vão – Por favor, pára! 
Ele me encarou, parecendo retomar um pouco de sua consciência, e respirou fundo para recuperar o fôlego. Ouvi um burburinho do outro lado da rua, e vi vários alunos parados nos portões, além dos que observavam a cena das janelas de suas salas. Fechei os olhos por alguns segundos, detestando aquele espetáculo todo, e voltei a me concentrar em Thur. 
- Vamos pra casa – murmurei, fitando-o com firmeza, e ele assentiu após uma curta hesitação. 
- Eu não quero te ver nunca mais – ele grunhiu, referindo-se a Mica, que tentava se levantar, porém estava tão tonto que voltava a cair sentado no chão – Se eu fosse você, torceria pra isso não acontecer. 
- Chega, Thur – pedi pela última vez, puxando-o pelo braço, e dessa vez consegui fazer com que ele me obedecesse. Entramos no carro em silêncio, e logo estávamos nos afastando da escola e de seus curiosos alunos. 

- Por favor, Lu! 
- Não, senhor! 
Mordi meu lábio inferior ao ouvi-lo reclamar do outro lado da linha, e observei mais uma vez meu reflexo no espelho do meu quarto. 
- Pelo menos a cor! Qual é o problema em me dizer? – ele insistiu, manhoso, e eu rodopiei, vendo a saia de meu vestido acompanhar meu movimento com graciosidade. 
- Não seja tão apressado, Aguiar – sorri, admirando agora meus sapatos – Por que ao invés de ficar me perguntando, você não vem me buscar e tenta descobrir sozinho a cor da minha lingerie? 
- Tudo eu, tudo eu – ele grunhiu, e eu prendi com muito esforço uma gargalhada – Bom, tô saindo de casa. Daqui a uns quinze minutos estarei aí. 
- Sim, senhor – assenti, antes de desligar. Respirei fundo, checando pela milésima vez todos os detalhes de meu visual: vestido, maquiagem, brincos, cabelo, sapato, perfume... Tudo estava certo para a minha festa de formatura. 
Encarei meu rosto no espelho, perdendo-me em pensamentos. Só eu sabia o quanto tudo havia mudado durante o último mês. 
Desde que a diretora havia descoberto tudo, cerca de quatro semanas se passaram, nas quais eu tive que passar por um breve acompanhamento psicológico. Digamos que a sra. Scott acreditou em nossa versão, mas não abriu mão de certas burocracias exigidas pelas regras da escola, e essa era uma delas. Não me importei, tinha plena consciência de que não era desequilibrada (pelo menos não como Mica me acusara), e conquistei ótimos relatórios da psicóloga em relação à minha sanidade mental. Sem mais penitências a cumprir, apenas concluí o ano letivo, sem causar maiores problemas. 
Thur fora demitido do colégio no dia seguinte à briga. Nada que já não esperássemos. Nada que ele não tenha amado. Ele estava lidando muito bem com sua vida de desempregado, a propósito. Somente as alunas não aprovaram muito a substituição de seus dois professores de biologia por duas senhoras, mas quanto a isso, nada tenho a declarar. 
De qualquer maneira, tudo ia às mil maravilhas entre nós. Ele já havia jantado em minha casa algumas vezes, nas quais conquistara a confiança de mamãe o suficiente para que ela me permitisse dormir em seu apartamento. Como? Não pergunte a mim. Nem eu sei como ele conseguiu deixar minha mãe tão impressionada com apenas sorrisos gentis e boas maneiras. Quando eu digo que ThurAguiar não é normal, não estou exagerando. 
Mica nunca mais apareceu. Outro fator que deixava Thur muito feliz, assim como todos nós. Não gostava muito de pensar nele, mas quando minha mente tornava isso inevitável, imaginava que ele havia ido para Leeds morar com sua noiva. Ou então... Bem, havia ido para algum outro lugar que não me interessava muito saber. 
E Kelly? Bem... Ela continuava sendo Kelly Smithers. Nada que eu já não soubesse administrar, após tanto tempo de rivalidade. 
Resumindo: tudo ia muito bem, obrigada! 
Deixei o momento retrospectivo de lado e desci as escadas, vendo mamãe ver TV na sala. Apesar de meus convites, ela havia preferido ficar em casa, alegando que festas eram para os jovens, e que estava velha demais para essas coisas. Pura bobagem, claro, mas não consegui convencê-la do contrário. A cerimônia oficial da formatura já havia acontecido há alguns dias, e a essa sim ela compareceu, portanto não havia tanto problema se ela se ausentasse da festa. 
Avisei que Thur estava a caminho, e esperei com ela até que o porteiro anunciasse sua chegada dali a poucos minutos. 
- Com todo o respeito... Sou o homem mais bem acompanhado do universo! – ele sorriu assim que saí de casa com mamãe, e fez uma reverência. 
- Esse Thur... Cortês como sempre – mamãe brincou, cumprimentando-o com um breve abraço, e eu concordei com um olhar derretido. 
- Cortês não, sincero – ele corrigiu enquanto eu me aproximava, e me abraçou pela cintura, beijando-me no rosto – Hm... Se não estou enganado, agora é a hora das recomendações? 
- Exatamente! – mamãe concordou, e eu ri baixinho – Hm... Eu sei que não preciso mais repetir meu discurso, mas mesmo assim, nunca é demais reforçar, certo? Então lá vai: juízo, não bebam muito, especialmente o senhor, que vai dirigir depois, tomem cuidado na rua... E bem, o resto eu deixo subentendido. Posso ser uma mãe compreensiva, mas certos limites eu ainda prefiro preservar. 
Desviei o olhar dela, envergonhada devido às tais recomendações subentendidas. Use camisinha definitivamente era a principal delas. 
- Pode deixar – Thur assentiu, firme, e nos despedimos de mamãe. Ele abriu a porta do carona para mim, cheio de pose, e eu entrei no carro, vendo-o fazer o mesmo logo em seguida. Partimos em direção ao local da festa, uma das casas noturnas mais procuradas exatamente para aquele tipo de comemoração, e não demoramos a chegar, afinal, Thur já sabia o caminho de cor, acostumado a comparecer às festas de formatura de todos os anos durante os quais trabalhara na escola. Um sorrisinho sacana, porém, era a diferença este ano. Desta vez, ele não estava, como poderíamos dizer? Ah, sim. A trabalho. Era apenas a formatura de quem ele agora chamava, minha namorada pirralha
Nos acomodamos numa das mesas reservadas para os alunos, mais especificamente a que eu e Sophia havíamos reservado juntas. Como ela e Chay já haviam chegado, nos cumprimentamos com alegria, e eu logo fui arrastada para a pista de dança por minha querida amiga. 
- Vem comigo! – pedi, estendendo a mão para Thur, que havia se sentado numa das cadeiras da mesa - Socorro! 
- Prefiro ficar só olhando por enquanto – ele sorriu, achando graça de minha cara desesperada, e eu revirei os olhos, me deixando levar por Sophia. Ficamos dançando por alguns minutos, conversando sobre como Thur e Chay estavam lindos de smoking, e do quão bacana era o fato de que eles pareciam ter engatado uma conversa muito animada sobre algo que depois investigaríamos. Mas, pela quantidade de olhares lançados a nós, não parecia muito difícil adivinhar o assunto. 
Falando em olhares, eu me sentia a própria Britney Spears. Nenhum aluno que passava por nós, fosse menino ou menina, abria mão de um belo olhar de censura ou desprezo para mim, mas eu apenas fingia que eles não existiam. Era a minha formatura, eu estava me divertindo com a minha amiga e que se dane o que pensam de mim. 
- Chega, Sophia, mal cheguei e já estou me descabelando toda – dei risada, após um bom tempo dançando, e voltei para a mesa, sendo imediatamente puxada por Thur para seu colo. 
- E aí, vai me dizer agora qual é a cor ou eu vou ter que dar meu jeitinho de descobrir? – ele provocou ao pé de meu ouvido, arrepiando-me inteira. Eu adorava joguinhos daquele tipo, ainda mais em locais onde não podíamos ser exatamente flagrados. 
- Não vou dizer nada – falei, abraçando-o pelo pescoço – A propósito, eu tenho minha própria cadeira. 
- A minha é mais quentinha e macia, não acha? – ele insistiu, deslizando sua mão por minha coxa aproveitando-se do fato de que ninguém veria aquilo debaixo da mesa. Beijei o canto de sua boca, tentando não atrair ainda mais olhares, e como eu não estava lidando com nenhum idiota, aquilo virou um beijo de verdade, e dos bons. Não que para isso precisássemos abrir mão da discrição, claro. 
- Rosa – sussurrei contra seus lábios, e percebendo que ele não havia entendido, expliquei – Minha lingerie é rosa. 
- Uh... Adoro rosa – ele aprovou, com a voz propositalmente rouca – Você me diz isso justo agora que eu não vou poder tirá-la daí? Você não tem pena de mim, garota? 
Soltei um risinho divertido, plantando um beijo em seu maxilar, e sussurrei antes de me levantar: 
- Nem um pouquinho. 
Refiz o caminho que havia percorrido até a pista de dança, agora um tanto preenchida por alguns casais devido à música romântica que tocava, e com charme, olhei por sobre meu ombro, vendo Thur vir logo atrás de mim com um sorriso enviesado. Agora que estávamos no principal lugar da festa, eu podia sentir todos os olhares em nós, mas nenhum deles realmente importava para mim a não ser o dele. 
Virei-me de frente para ele, deixando-o segurar meu quadril suavemente e unir nossos rostos até que houvessem apenas milímetros de distância entre eles. Inconscientemente, meus pés começaram a acompanhar a música a seu próprio ritmo, seguindo a batida lenta, e os dele fizeram o mesmo, o que transformou nossa espécie de abraço numa tímida e deslocada dança. 
- Estou me sentindo romântico agora... Posso dizer algo romântico? – Thur soprou, com um sorriso de canto, e eu assenti, achando graça de seu jeito impulsivo - Eu já disse que você está linda? 
Meu olhar se derreteu diante de seu elogio, assim como o sorriso que eu já esboçava alargou-se em meu rosto. Sua mão contornou minha cintura, parando na base de minhas costas, e eu me deixei ser levemente puxada para perto de seu corpo, deslizando minhas mãos por seu peito até atingir seus ombros. 
- Sinceramente, eu não me lembro... Acho que sim – respondi, vendo-o soltar um risinho baixo ao acariciar meu queixo com a outra mão – Mas não estou tudo isso. Digamos que eu apenas me esforcei para não parecer uma baranga do seu lado. 
- Eu teria ficado muito feliz com um obrigada – ele disse, e eu apenas sorri ao senti-lo me beijar com delicadeza. Abracei seu pescoço, respirando fundo seu perfume, e permiti que ele aprofundasse o beijo, porém sem estendê-lo muito. 
- Hm... Obrigada – falei, um tanto zonza, fazendo-o sorrir de um jeito esperto – E a propósito... Você também está muito lindo. 
- Não estou tudo isso... Digamos que eu me esforcei para não parecer um velho babão do seu lado – ele piscou, e eu lhe dei um soquinho no peito, enrugando meu nariz em sinal de desgosto – Obrigado, Blanco. 
Fechei meus olhos para aproveitar o momento, e ouvi uma nova música começar a tocar. Relaxei ainda mais ao reconhecê-la, e involuntariamente meus lábios começaram a se mover conforme a letra. 

When I met you, I didn't really like you 
(Quando eu te conheci, eu realmente não gostei de você) 
First impression was you were somebody who'd 
(Minha primeira impressão foi a de que você era alguém que) 
Walk right by when I waved at you and say "Hi" 
(Passaria direto quando eu acenasse e dissesse "Oi") 
But they say 
(Mas dizem) 

Bad beginnings make happy endings 
(Maus começos fazem finais felizes) 
Now that I know you, I begin to understand things 
(Agora que te conheço, eu comecei a entender as coisas) 
Turn around a hundred and eighty degrees 
(Uma mudança de 180 graus) 
I found my missing piece 
(Eu encontrei o pedaço que me faltava) 

There's something ‘bout you that's like the sun 
(Há algo em você que é como o sol) 
You warm up my heart when I come undone 
(Você aquece meu coração quando eu me despedaço) 
You're like my soul mate, and on those days 
(Você é como minha alma gêmea, e naqueles dias) 
When I hurt, when I break 
(Em que eu me machuco, em que eu me parto) 
You are my band aid 
(Você é meu curativo) 

When I get caught in the rain and it feels like 
(Quando eu sou pega pela chuva e parece que) 
There is no one in the world who understands my 
(Não há ninguém no mundo que entenda minhas) 
Complications that I face on certain days 
(Complicações que eu encaro em certos dias) 
I talk it through with you 
(Eu converso sobre elas com você) 

No matter how I try to hide 
(Não importa como eu tente esconder) 
You see straight through my disguise 
(Você enxerga através do meu disfarce) 
You know how to fix me 
(Você sabe como me consertar) 
You are my therapy 
(Você é minha terapia) 

There's something ‘bout you that's like the sun 
(Há algo em você que é como o sol) 
You warm up my heart when I come undone 
(Você aquece meu coração quando eu me despedaço) 
You're like my soul mate, and on those days 
(Você é como minha alma gêmea, e naqueles dias) 
When I hurt, when I break 
(Em que eu me machuco, em que eu me parto) 
You are my band aid 
(Você é meu curativo) 

Isn't it funny how these things can turn around? 
(Não é engraçado como as coisas podem mudar?) 
Just when I thought I knew you, you prove me wrong 
(Quando eu achava que te conhecia, você prova que eu estou errada) 
I used to hate the things you love and love the things you hate 
(Eu costumava odiar as coisas que você ama e amar as coisas que você odeia) 
But now I like it 
(Mas agora eu gosto) 

- Você canta bonitinho – ele comentou, fazendo-me abrir os olhos e deparar-me com sua expressão serena. Franzi a testa, duvidando de sua sinceridade. 
- Só você, minha mãe e a Sophia acham – sorri, percebendo que ele não havia sido irônico. 
- Bom, eu sou suspeito pra falar... Acho tudo o que você faz bonitinho – Thur suspirou, observando o resto das pessoas ao nosso redor para disfarçar a timidez ao pronunciar sua confissão – Até a cara que você faz quando tá prestando atenção na TV. 
Dei um sorriso envergonhado, acompanhando o movimento de seu braço e rodopiando conforme ele me girava. 
- Você tem essa mania adorável de ficar me encarando quando eu tô distraída – observei, sarcástica, recebendo um sorriso sem vergonha em resposta – Mas talvez estejamos quites... Eu também adoro ver você se arrumando na frente do espelho. A cara que você faz quando olha seu reflexo é tão... Sexy. 
- É porque eu me amo – ele disse, sério, e eu caí na gargalhada – Quando me vejo no espelho, quase tenho um orgasmo. 
- Quando eu te vejo na frente do espelho, quase tenho um orgasmo, isso sim – corrigi, e dessa vez foi ele quem riu. 
A festa passou relativamente rápido, graças ao DJ digno e ao grande número de músicas conhecidas que ele tocara. Dancei feito uma desvairada com Sophia, e de vez em quando, com Chay, que adorava atiçar as línguas maldosas da escola que o tachavam de homossexual e entrava na nossa onda. Mal sabiam elas o que ele e Sophia eram capazes de fazer num espaço vazio onde não fosse proibido ficar nu. 
Aproveitei muito a presença de Thur também. Não era difícil me encontrar sentada em seu colo, com as pernas cruzadas elegantemente enquanto sussurrava provocações nada elegantes em seu ouvido, ou então conversando e nos agarrando um pouquinho no bar enquanto aguardávamos nossas bebidas. 
É, acho que eu estava me divertindo. 
Até minha grande sorte colaborar comigo, e reverter a situação. Ou talvez, intensificá-la. 
Thur havia ido ao bar pedir mais uma bebida, e eu fiquei observando-o da mesa, falando sem parar com Sophia e Chay. Bastou um minuto de distração para que meus olhos o flagrassem conversando com um elemento loiro cujos cílios pareciam aberrações de tão gigantes, devido aos quilos de rímel. 
Lua... Acaba com ela pra mim, por favor? – Sophia sorriu, falsa, ao ver exatamente o mesmo que eu. Respirei fundo, retribuindo sua expressão, e me levantei. 
- Chay, meu querido... Você que tem essa mania irremediável de andar com chicletes nos bolsos desde a quarta série – falei, sem tirar os olhos de Thur, que agora dava um sorrisinho ácido para a garota (e se eu o conhecia tão bem quanto imaginava, ele devia, no mínimo, estar chutando a cara dela em pensamento) – Faça sua amiga feliz e diga que você tem pelo menos um no bolso. 
- Se você quer fazer mesmo o que eu tô pensando, eu tenho – Chay respondeu imediatamente, e eu apenas estendi a mão, piscando para ele – E vê se faz direito, hein? 
Soltei um risinho malvado, pegando o chiclete e mascando-o rapidamente enquanto me dirigia até o bar. Se Kelly Smithers queria uma noite inesquecível, ela definitivamente o teria. 
- Boa noite – falei, com a voz calma, aproximando-me de Thur e embrenhando-me em seu abraço, que já aguardava discretamente por mim há alguns segundos. 
- Boa noite, sra. Aguiar – Kelly respondeu, no mesmo nível de falsidade que eu, e não manteve seus olhos em mim por mais que dois segundos, voltando a fixá-los em Thur – Não esperava que vocês viessem... Especialmente você, Lua. Que coragem. 
- Por que eu não viria à minha própria formatura? – alfinetei, vendo Thur tomar um gole de sua bebida e me oferecer logo em seguida – Não, obrigada. Prefiro estar sóbria para presenciar essa nossa maravilhosa conversa. 
- Eu não – Thur confessou, dando um risinho medíocre e ocupando seus lábios com o álcool. Não pude evitar acompanhá-lo na cara de deboche, e ainda por cima fiz uma bola com o chiclete que mascava, no maior estilo vadia de luxo. 
- Vocês se acham imbatíveis, não é mesmo? – Kelly suspirou, fraquejando um pouco em sua firme expressão simpática – Que esse romance perfeito vai durar pra sempre. 
- O que nós achamos não lhe convém – rebati, incisiva, porém sorri amigavelmente em seguida – Tudo o que lhe convém é que sim, estamos num romance perfeito. E você só não se mata de tanta inveja agora mesmo porque cometer suicídio é algo complicado demais para alguém tão intelectualmente incapacitado. 
- Adolf Hitler de pernas depiladas, vamos embora – Thur sugeriu perto de meu ouvido, prendendo seu riso com toda a força – Hoje é uma noite de festa, não vamos nos desgastar. 
- Desgastar? Quem está se desgastando aqui? – perguntei, vendo a raiva arder nos olhos de Kelly, e somente para provocá-la ainda mais, me dei ao luxo de soltar uma risadinha relaxada – A festa não poderia ter sido melhor! 
- Some daqui, garota – Kelly rosnou, com a voz trêmula, e eu arqueei uma sobrancelha, segurando um sorriso pretensioso com dificuldade. Fiz uma breve reverência, vendo Thur dar um sorriso divertido, e me preparei para o melhor momento da festa. O gran finale ainda estava por vir. 
- Eu espero sinceramente que você não volte a nos incomodar – murmurei, dando um passo em sua direção e adotando uma postura ameaçadora, sem abrir mão da expressão carismática - E como eu não tenho a menor confiança em você, vou me prevenir para que isso não aconteça, antes mesmo de você sequer pensar em chegar perto de nós dois outra vez. 
Kelly franziu a testa, ultrajada, e eu rapidamente tirei o chiclete de minha boca, colocando-o no topo de sua cabeça e esmagando-o para que aderisse mais aos fios. Ela soltou um grito apavorado, digno de filme de terror, e eu apenas lhe dei as costas, caminhando na direção oposta e sendo seguida por Thur, que ria sem parar. 
- Ela vai ficar traumatizada com chicletes a partir de hoje – ele disse, olhando para trás e rindo do que via – Vai ser o holocausto até ela conseguir tirar aquilo do cabelo! 
- Oras... Você tinha me chamado de quê mesmo? – perguntei, fazendo-me de desentendida – Adolf Hitler de pernas depiladas? Pois é... Adoro um holocausto! 
Thur apenas me encarou com os olhos cerrados devido à minha piada infame, mas se rendeu às minhas gargalhadas, continuando comigo o trajeto até a mesa. 
- Eu já disse que sou sua fã? – Sophia falou, mal conseguindo respirar. 
- A gente devia ter filmado a cara dela! – Chay acrescentou, roxo de tanto rir. 
Lua, como você tem amigos malvados – Thur censurou, fingindo seriedade com muito esforço, porém logo caiu na gargalhada ao ver Kelly a alguns metros, correndo até sua mãe aos prantos com as mãos na cabeça. Acho que ela estava tão mais preocupada em desgrudar o chiclete de seu cabelo que me levar ao óbito (ou pelo menos tentar) ficara em segundo plano na sua lista de afazeres. 
Vejamos... Agora acho que posso concluir. Festas de formatura deliciosas e com vingança triunfal: confere. 

Puxei Thur pelo colarinho ao ouvir o barulho das portas do elevador se abrindo. Cambaleei para trás em busca de algum móvel, e ri contra os lábios dele ao tropeçar em meus próprios pés, já um pouco alegre devido ao álcool. Prático como sempre, ele passou um braço por trás de meus joelhos, carregando-me como recém-casados (bêbados) através da sala escura de seu apartamento. Balancei as pernas e joguei a cabeça para trás por um momento, curtindo a sensação de estar me movendo sem tocar o chão. 
- Sabe do que eu lembrei agora? – Thur perguntou ao pé de meu ouvido, parando à frente do sofá e sentando-se nele, comigo sobre suas pernas – Daquela vez em que eu te trouxe aqui e tive que te carregar até o elevador. 
- Aquele dia foi bem tenso – comentei, abraçando-o pelo pescoço e desfazendo-me de meus sapatos – E um dos que mais me marcaram, sabia? 
- É verdade – ele concordou, dando um sorriso enviesado enquanto alcançava o zíper de meu vestido e buscava minha boca com a sua – Mas a casa de praia me marcou mais que todos. 
- Todos me marcaram de um jeito ou de outro – confessei contra seus lábios, tirando sua gravata borboleta e desabotoando sua camisa – Sem eles, eu não estaria feliz como estou hoje. 
- Sem eles, eu não estaria feliz como nunca estive antes – ele repetiu, adaptando minha frase e mordendo meu lábio inferior – E quem diria, comprometido! 
Ri baixo de sua contradição, esfregando levemente a ponta de meu nariz no dele antes de beijá-lo com calma. A palavra comprometido naquele contexto, confesso, me agradava muito. 
- Pode ser que não dure pra sempre, como a Smithers disse – soprei, encarando-o de pertinho com um sorriso bobo – Mas isso não significa que não possa ser intenso e verdadeiro. 
- Já é intenso e verdadeiro – Thur afirmou, me olhando profundamente conforme descia devagar o zíper de meu vestido por toda a extensão de minhas costas – E mesmo que um dia termine, vai ser eterno na nossa memória. 
- Vai mesmo – concordei, acariciando seu tronco por debaixo da camisa já aberta e me arrepiando com sua pele quente, como de costume. 
- Pode ser que eu me arrependa de ter dito isso amanhã, mas hoje eu quero dizer e que se dane o depois – ele resmungou de olhos fechados, dedilhando minhas costas agora nuas com o mesmo carinho de sua voz ao voltar a falar – Eu... Nossa, como eu queria ter sido o primeiro. A te beijar, a te fazer carinho, a dormir enroscado em você... O primeiro em tudo. 
Levei minhas mãos até seu rosto e o acariciei lentamente, sem palavras. Thur abriu os olhos, revelando muita sinceridade neles, e tudo que fui capaz de fazer foi sorrir feito uma idiota. 
- Não ligue pros meus olhos marejados, é o álcool – murmurei, fungando baixo ao notar minha visão embaçada e recebendo um risinho tímido como resposta – Você tá me deixando sensível, seu... Seu... 
- Bobo? Feio? Chato? – ele chutou, prevendo minhas possíveis palavras, e eu cerrei os olhos. 
- Malvado – finalizei, rindo ao me lembrar da piada ruim que havia feito com aquela palavra há algum tempo. Thur revirou os olhos, pensando no mesmo ocorrido que eu, e me deitou no sofá bruscamente. 
- Eu sou malvado mesmo – ele sussurrou, puxando meu vestido para baixo e revelando o sutiã meia taça rosa bebê por baixo dele; meu coração acelerou muito ao senti-lo beijar meu colo, assim como o ar começou a sumir de meus pulmões – E eu sei que você me ama exatamente por isso. 
- Metido – arfei, encarando-o com birra, e ele deu um sorriso sacana, guiando seus lábios por meu rosto até alcançar minha orelha. 
Gostosa – o ouvi retribuir de um jeito sujo, o que fez uma súbita onda de calor percorrer meu corpo; eu adorava quando ele falava com aquele tom pervertido ao extremo. 
Resultados sucessivos ao adjetivo muito bem empregado e muito mal intencionado: lingerie danificada, utensílios sobre a mesa de centro derrubados por peças de roupa voadoras e mais momentos inesquecíveis para guardar na memória. 
Assim como todos os outros que, com certeza, ainda estavam por vir. E que eu aguardava ansiosamente! 

Fim

Créditos: Fanfic Obsession

4 comentários:

  1. muita booooom,amei,perfeita sem mais ! ♥

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  2. Queremos segunda temporada!!!

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  3. Nunca vou me cansar de ler essa web, já perdi a conta de quantas vezes li. E olha que já se passaram anos, mas eu continuo aqui, lendo sempre. Por favor, faça nem que seja um capítulo! ♥

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