Pov' Sophia.
Alguns meses se passaram depois que eu saí de casa, de que Lua ficou grávida. As provas do vestibular já tinham passado e todos nós estávamos esperando o resultado, que na verdade ia demorar mais um mês e pouco para sair. Lua já estava com três meses de gravidez e sua barriga já era perceptível. Seus pais ficaram um pouco chocados quando souberam que a filha, até alguns anos atrás, era pequena e indefesa, estava grávida, mas eles aceitaram e já até a apoiavam. Daqui a dois meses ela e Arthur vão se casar e tudo vai na maior paz do mundo, tirando algumas brigas que eu e Micael temos de vez em quando, mas nada melhor do que fazer as pazes, não é?!
Agora eu e Mica estávamos sentados no sofá, ele me abraçava pela cintura e a gente assistia um seriado qualquer que passava na televisão, até que fomos interrompidos pelo barulho de campainha, eu estranhei um pouco, afinal, nenhum de nós estávamos esperando ninguém.
- Quem será? - Perguntei. Micael deu os ombros. - Tá, eu vou abrir. - Me levantei e abri a porta, quem estava lá era o porteiro. - Oi seu Joaquim. - Sorri, ele era um senhor adorável.
- Oi dona Sophia... bem chegaram essas cartas para a senhora e para o seu Micael, e resolvi vim entregar. - Ele sorriu docemente, e eu retribui.
- Muito obrigado... e eu já disse para não me chamar de senhora, pode me chamar de você. - Nós rimos e ele concordou. Deu um tchauzinho e eu fechei a porta. Me sentei na ponta do sofá e comecei a ver quais eram as cartas que lá continham. - Contas, contas e mais contas. - Continuei olhando até que achei uma carta um pouco diferente, olhei e remetente e me assustei. - Micael... olha essa carta. - Eu o entreguei e ele a observou, até arregalar os olhos.
- Ma-mas é do seu pai, Sophia! - Ele disse um pouco assustado, ainda tentando processar a informação de que meu pai tinha mandado uma carta para mim. - Eu acho melhor você ler... não sei, pode ser alguma coisa séria. - Eu assenti e abri lentamente a carta, com as mãos um pouco trêmulas, eu não sabia oque esperar por aquela carta. Ela dizia:
"Querida Sophia... sei que deve estar estranhando a chegada dessa minha carta, pois bem, eu vou te contar uma das histórias mais lindas que eu já ouvi, a que eu vivenciei, eu nunca te contei a história da sua mãe, e agora, por todas as circunstâncias que nos encontramos, acho que você tem o direito de saber. Quando eu tinha 18 anos e entrei na faculdade, conheci uma das mais belas moças que já tinha visto em toda minha vida. Ela era alta, branca e loira, parecia com você, era doce, gentil, estudiosa, e eu me apaixonei de primeira vista. Nós vivíamos juntos, estudando e passeando, nós também nos divertíamos, eramos grande amigos acima de tudo. Ela não sabia que eu era apaixonado por ela, até que um dia, ela começou a se envolver com outro garoto, eu sinceramente nunca tinha sentido uma dor tão grande como senti no dia que a vi nas mãos de outro, me sentindo o homem mais idiota de todos por te-la deixado se entregar a outro homem. Alguns anos se passaram e nós nos reencontramos, e filha, ela ficou mais linda do que nunca, meus sentimentos voltaram com tudo e resolvi me declarar, só que nesse dia, querida, já era tarde demais. Lembra do homem que ela tinha se envolvido antes?! Ela tinha tido uma linda filha dele, porém ele a abandonou, e sua mãe a criava sozinha, e essa é você. Eu resolvi mesmo assim ficar com a sua mãe e a neném de apenas dois anos de vida, cuidando de vocês duas como as jóias mais valiosas que eu tinha recebido em toda minha vida, porque vocês eram. Meus três anos que se passaram foram ou três melhores anos de toda a minha vida, eu tinha uma família perfeita, uma mulher maravilhosa, uma filha, que mesmo não sendo de sangue, eu considerava minha, e ainda considero. Pois bem, quando você completou 5 anos Sophia, sua mãe fez alguns exames de rotina e descobriu que tinha um câncer, um câncer de mama, e estava em estado terminal. Você tem noção do quando eu sofria a ainda sofro com isso até hoje? Depois de 5 meses lutando contra o câncer, lutando para sobreviver por mim, por você, pela nossa família, ela veio a falecer. Foi uma dor indescritível, que eu sinto até hoje, por isso eu trabalhava tanto, por isso eu era tão frio, me fazia esquecer a dor que eu tinha. Por mais errado que fosse, eu te evitava para não lembrar da sua mãe, vocês são uma cópia perfeita uma da outra, e quanto eu te via fazendo as mesmas coisas que ela fazia, meu Deus, eu sentia uma dor tão forte. Eu te peço desculpas por não ter te contado antes tudo isso, e o motivo principal dessa carta e lhe mostrar o quão arrependido eu estou por ter te tratado com frieza por todos esses anos, ao invés de dar o amor e carinho que você merecia. Eu sei que não fui um bom pai e nem me esforcei para ser, mais hoje, depois que você saiu de casa, eu vejo o quão burro eu fui por não perceber que você é muito importante para minha vida. Meu amor, eu te amo mais que tudo nesse mundo, e realmente fico feliz por você ter se tornado uma mulher honesta, estudiosa, linda, e eu tenho certeza que vai ser muito bem sucedida futuramente. Eu lhe desejo a melhor da vida, minha princesinha. Outro motivo que eu mandei essa carta é para te avisar que eu vou me mudar, vou para a Califórnia daqui a algumas horas, então se um dia você se ver preparada para me perdoar, eu estarei te esperando na minha casa, com o Micael, que eu sei que é um ótimo rapaz, e talvez até com um netinho, por isso, deixarei meu endereço e telefone mais embaixo. Te amo mais que tudo e entenderei se resolver não me perdoar. Tenha uma vida maravilhosa, querida, sei que você merece mais, e torcerei para o melhor. Beijos e até logo. ".
Eu chorava compulsivamente e Micael, mesmo sem entender nada, me abraçava e tentava me consolar. Era muita informação para apenas uma carta. Era uma vida toda em uma carta, era a minha vida, a vida dos meus pais. Minha mãe tinha tido câncer e eu não era filha do meu pai. Eu esperei minha vida toda por uma resposta sobre a minha mãe, sobre o meu passado, e agora que eu a tenho, o meu maior desejo era nunca saber disso.
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