Web Summertime - Capitulo 14





 She's slipping away

Lua's P.O.V mode ON

- Você não vai pra lugar nenhum vestida assim! - Arthur quase gritou, e eu bufei, tentando me controlar ao máximo para não voar em seu pescoço e matá-lo estrangulado.
- Quem diabos você pensa que é pra falar assim comigo, Aguiar? - Gritei – Eu vou vestida com a roupa que EU quiser!
- Não vai porra nenhuma! Você é minha namo...
Arthur parou de berrar no meio da frase.
E de repente um silêncio cortante tomou conta do quarto.
Eu poderia ouvir uma agulha caindo no chão, tenha certeza disso.
- Você não vai assim. - Ele gaguejou.
- O que você disse?
- Que você não vai assim. - Ele coçou a nuca, desconfortável. - Foi isso que eu disse.
- O que você disse ANTES, Arthur?
Então a porta abriu, e Micael colocou a cabeça para dentro, assustado.
- Vocês estão brigando? - Ele perguntou inocentemente. Bufei.
- Se manda daqui, Micael. - Arthur disse sem olhá-lo. Então eu me virei para a porta.
- Borges, o que há de errado com esse vestido? - Perguntei repentinamente e ouvi o riso sarcástico de Arthur.
- Você não tá fazendo isso... - Ele murmurou.
- Cala a boca, docinho. - Olhei de soslaio, nervosa. Micael pareceu querer sair correndo dali.
- Na-nada. - Ele gaguejou.
- Você pode melhor do que isso, Micael. - Incentivei – Estou feia?
- Ei, eu nunca disse que você estava... - Arthur interrompeu, mas eu logo gritei.
- EU NÃO ESTOU FALANDO COM VOCÊ! - Respirei fundo. - Micael.
- Claro que não, Lu. Você está muito bonita... - Micael dizia sem graça, pelo olhar de Arthur sobre ele. Continuei o encarando, esperando que continuasse.
- Vai, Micael. Fala! - Arthur se intrometeu – Pode falar que ela tá gostosa pra caralho! É o que todos os bêbados daquela porra de boate vão dizer mesmo!
Respirei fundo.
- Micael, sai. - Dessa vez eu quem disse. Ouvi a porta encostar – Você não confia em mim? - Perguntei repentinamente, e Arthur me encarou nos olhos.
- O quê?
- Você não confia em mim, Arthur? - Repeti, e ele gaguejou.
- Não é isso, é só que...
- É só que você não confia em mim. - Continuei, sentindo meu coração apertar – Porque se confiasse, não se importaria com o tamanho do meu vestido. Em momento algum eu reclamei do seu excesso de perfume que vai fazer todas as francesas virarem a cabeça pra te olhar, reclamei? - Gritei.
- O que há de errado com o meu perfume? - Arthur berrou.
- O que há de errado com VOCÊ? - Gritei de volta – Quer saber, eu não quero mais sair com você. Eu vou sair com as minhas amigas!
- Ótimo, é um favor que você me faz! - Arthur me encarou, sarcástico – Agora toma cuidado pra não se arrepender disso, docinho. - Ele sussurrou perto de meu ouvido – As francesas podem realmente gostar do meu perfume.
- Que morram asfixiadas! Todas elas. - Ri, sarcástica – E que levem você junto. Babaca.
Peguei minha bolsa e abri a porta.
- Insuportável... - Arthur murmurou e eu bati a porta, o deixando sozinho com a merda da insegurança dele.
E com o inferno daquele perfume delicioso que ele estava usando.
Que morresse por asfixia de 212 MEN. Eu realmente não estou ligando.
- Vocês são tão idiotas que me dá até vontade de rir! - Ully disse, de fato rindo da minha desgraça, enquanto bebia seu Martíni. Virei uma tequila de vez, enquanto Mel sentava ao meu lado.
- Fala sério, Lu. Acho até bonitinho esse ciúme do Aguiar. - Melanie sorriu – Isso prova que ele gosta de você.
- Isso prova que ele é um babaca inseguro que não confia na própria namo... - Parei no meio da frase, assim como Aguiar tinha feito antes. Aquela briga idiota tinha me feito esquecer dessa parte. As três me encaravam, com os olhos arregalados.
- Vocês estão namorando? - Sophia perguntou interessada, e eu olhei para baixo.
- Não. Não que eu saiba... Isso foi modo de dizer, que saco! - Respondi e Soph arqueou uma sobrancelha.
- Calminha, gata! Não tá mais aqui quem falou!
Suspirei.
- Desculpa, amiga. Estou meio estressada, não devia ter descontado em você.
Disse rapidamente, antes que ela viesse com sentimentalismos pro meu lado. Se Soph fosse homem, com certeza seria gay. Então um cara realmente bonito sentou ao meu lado no balcão. Ele parecia um modelo de cuecas da Calvin Klein ou algo do tipo, e o amigo dele também. Mel se ajeitou na cadeira, o que me deu uma vontade leve de rir.
- Duas cervejas. - O loiro disse com sua voz ainda mais sexy, e Sophia olhava para ele descaradamente.
O barman colocou as cervejas na frente dos dois, e quando aquele que estava ao meu lado foi pegar a sua, esbarrou em mim.
- Desculpe. - Ele abriu um enorme sorriso – Tequila essa hora? Alguém não vai chegar andando em casa hoje... - Ele riu me olhando, e eu tive que acompanhar. Qual é, o cara era realmente gatíssimo.
- Não estou me importando muito em não chegar em casa hoje. - Ri, e Soph me encarou de sobrancelha erguida. Merda. Não é que isso tinha parecido uma cantada?
- Isso é bom. - Ele riu – Ei, estamos indo para uma festa no cais, estão afim de vir junto? Garanto que hoje você não chega em casa, linda!
Olhei para as meninas. Olhei para o par de olhos âmbar em minha frente.
Imagine-o de cueca Calvin Klein.
Confesso que imaginei também que estivesse sem ela.
E então minha mente se desvencilhou dele e parou em Arthur. Que tinha agido como um perfeito idiota há menos de duas horas atrás, mas que ainda assim era meu namo-eu-não-consigo-terminar-a-frase.
E inevitavelmente lembrei do seu 212.
E das francesas saidinhas que iriam oferecer um ombro amigo caso ele estivesse deprimido por minha causa. Ou pior! Que iriam aceitar uma festinha particular porque ele está puto com sua namo-ou-sei-lá-o-quê e vai querer se vingar.
Merda. Mil vezes merda.
- Gata? - Ouvi a voz de tele-sex do rapaz e acordei.
- Desculpe. Eu só estava lembrando de... Alguém. Eu preciso ir.
- Que? Mas eu pensei que...
- Deixa ela ir, meu filho! Ela precisa resolver as coisas dela! - Ully disse do nada e Melanie riu – Aliás, Lu, vou com você. Não estou muito contente com meu gostosinho solto na pista com o seu docinho irritado.
Dessa vez eu ri de verdade.
- Ei, essa festa parece interessante! - Sophia sorriu para um dos garotos.
É. Ela e Mel estavam perdidas com os saradões CK.
Pobre do Micael e do meu irmão. Não que eles tenham nada, mas...
O lado de fora da boate estava lotado, sorte que Ully, esperta como sempre, tinha carregado as pulseirinhas do camarote que Thiago havia deixado com ela. Devo anotar que esses dois começarão a namorar em breve, quase certeza. O lado de dentro parecia duas vezes mais cheio que o de fora, como se isso fosse sequer possível. Tomei uns esbarrões na pista, xinguei umas duas ou três biscates que pisaram no meu pé e quase enfiei a mão na cara de um ser humano que devia ter mais de 95% de álcool no sangue e que queria saber se rolava um sentimento. Há, puta merda! Ully foi me puxando pela mão, e finalmente chegamos no andar de cima, no camarote. Estava bem mais tranquilo, mas ainda assim cheio. Não consegui avistar nenhum dos garotos de primeira.
- Eles devem estar perto do bar! - Ully gritou, devido à música altíssima, e apontou para a extremidade oposta de onde estávamos. Maldito seja esse meu salto agulha nessas horas, que preguiça de viver.
Chay chegou até nós, visivelmente bêbado. Já iria fazer piada do modo engraçado com que ele estava andando, quando olhei por sobre seu ombro. E quase tive um treco.
As pessoas transformaram-se em vultos, a música ficava mais longe.
Tudo o que meus olhos se prestavam a enxergar nitidamente era alguém chamado Arthur Aguiar. Alguém esse que estava com uma loira pendurada no pescoço, quase caindo em cima do sofá vermelho da boate. Senti meu estômago revirar, paralisei cada músculo ao ver a garota pressionar a boca contra a dele, puxando-o pra baixo.
E então uma lágrima escorreu.
- Lua, volta aqui! - Ouvi o grito de Thiago, não tinha a menor noção de onde ele tinha surgido.
- Me deixa em paz, Amaral! - Gritei de volta, me aproximando das escadas do camarote. Estava fazendo um esforço enorme para segurar as lágrimas que queriam cair a todo custo.
Então Thiago segurou meu braço.
- Não é o que você está pensando, Lu, ele...
- CALA A BOCA! - Berrei, e mesmo com o som absurdamente alto, as pessoas ao redor me ouviram – Eu não quero saber de nada, de NADA! Não venha defender seu amiguinho, Amaral! Isso é ridículo!
Corri escadaria abaixo, ouvindo xingamentos de todos aqueles que quase atropelei.
E então, Lua Suede se ferra de novo. Isso não costumava doer tanto, não como agora. Parecia que havia alguém apertando meu coração pelo meio, com tanta força que fazia com que minha respiração falhasse. Eu estava enjoada. Não conseguia sequer distinguir uma emoção no meio de todas aquelas. Raiva, tristeza... Decepção.
– Eu posso realmente ter feito Londres inteira sofrer, e eu admito isso! Mas eu nunca faria isso com ela, Chay! E se um dia eu fizer, vou ser eu quem vai pedir pra você me bater, porque eu vou ter perdido a única que eu realmente quis!
As palavras de Arthur eram como uma faca. Eu realmente tinha confiado nele. Eu tinha achado que conosco poderia ser tudo diferente. Mas eu estava enganada, aliás, como sempre. Eu e meu dedo podre terrível para homens! Arthur Aguiar, o pegador de Londres... Isso nunca iria mudar, só se fosse na minha cabeça!
- Idiota, idiota! - Murmurei para mim mesma, sentindo a brisa leve do lado de fora do local. Deixei que as lágrimas finalmente escorressem, contendo meus próprios pulsos para que não batesse em mim mesma. Eu merecia. Eu não devia confiar nele, nunca!
- Lu! Lu!
Respirei fundo, sentindo um ódio súbito percorrer minhas veias ao ouvir a voz dele. Mas nem tive o trabalho de virar para trás, continuei andando, como se tivesse um Ipod imaginário no último volume em meu ouvido.
- Lua! - Dessa vez o grito foi mais alto, e eu senti sua mão segurar meu braço.
Não fui delicada. Puxei o braço com força e virei de frente para ele. Seu rosto estava a milímetros do meu. Respirei fundo, mas não senti mais o aroma delicioso de seu perfume. Ele cheirava a perfume barato de francesas vadias, com toda certeza. Não o encarei nos olhos.
Esquece que eu existo, Aguiar! Simplesmente esqueça!
Gritei, categoricamente, mas não consegui virar para ir embora, porque ele me segurou de novo.
- Lu, me escuta, eu não fiz absolutamente NADA! - Sua voz estava firme, contrastando com seu rosto de filhotinho de cachorro caído da mudança. Eu ODIAVA aquela carinha. Porque eu amava quando ele fazia aquilo. E dane-se minhas bipolaridades.
Ri, sarcástica.
- Não adianta você me olhar assim, Arthur! Nada que você disser vai apagar o que eu vi! EU VI, Arthur! - Senti uma maldita lágrima quente percorrer meu rosto. Arthur aproximou sua mão para enxugá-la, mas eu virei abruptamente – Não. Toca. Em. Mim. - Respirei fundo - Acabou, Aguiar. O que quer que seja isso que nós temos... Acabou.
- Lu, dá pra você me ouvir? Não aconteceu nada, você entendeu tudo errado, deixa eu explicar! - Arthur corria atrás de mim, enquanto eu fazia sinal para o táxi.
O veículo parou rapidamente ao meu lado, e eu olhei para Arthur. Seus olhos estavam vermelhos, e por um momento, isso cortou (mais) meu coração. Mas desviei o olhar, batendo a porta.
- Eu disse que está acabado, docinho.

Arthur's P.O.V mode ON

Deixei a merda de uma lágrima escapar, assim, no meio da rua. O táxi saiu em disparada e tudo que eu conseguia pensar era O QUANTO ELA ESTAVA SENDO IDIOTA. E o pior de tudo: Ao menos dessa vez, eu estava limpo. Eu não tinha feito absolutamente nada.

Alguns minutos antes...
- Dude, o Chay tá muito louco! - Micael chegou cambaleando, com uma garota do lado, e eu e Thiago gargalhamos.
- Você também está! - Disse rindo, enquanto tomava um gole da minha cerveja.
Verdade era que não Lu não saía da minha cabeça. Nós éramos imensamente idiotas, isso é bem verdade. Nossas brigas quase nunca faziam sentido... Tudo bem, elas nunca faziam sentido. E eu... Bem, eu não queria que ficássemos brigados. Tá, eu sei que eu ando cada dia mais gay. E mais babaca também, porque o vestido dela nem estava tão curto assim.
- Ei, gatinhos... Podemos sentar aqui com vocês? - Ouvi uma voz que me tirou do transe. Duas morenas realmente bonitas estavam em pé em nossa frente. Thiago me encarou, apreensivo. Não dispensaríamos isso por nada, mas agora era diferente... Ele tinha a Ully. E eu tinha uma certa pessoa que estava em outro lugar com seu vestido quase-curto que a deixava gostosíssima e linda como sempre.
- Erm, podem sentar, a gente tem que... Procurar nossos amigos, né Arthur? - Thiago arqueou sua sobrancelha e eu assenti, deixando as garotas confusas.
Quando se vai para uma balada tentando ser fiel a alguém, o que resta é encher a cara. Porque convenhamos, garotas podem até ir em boates só pra dançar, mas essa nunca é nossa intenção. Era inevitável olhar para todas aquelas francesas, ainda mais com algumas delas lançando olhares pervertidos pra cima de mim. Uma loira, em particular, me chamou a atenção. Ela estava sozinha e ria feito louca (sozinha), com uma garrafa de cerveja na mão. Quando tentou dar alguns passos para o meio da pista, quase caiu, o que a fez rir ainda mais. Sorri de lado, ela era realmente engraçada. Então ela abriu seus enormes olhos azuis pra mim, e com cara de espanto, veio saltitando e/ou trocando as pernas até onde eu estava.
- JOOOOOOOOOOOOOOOOOSH, QUE SAUDADE! - A loirinha gritou, e eu comecei a rir, assim como Thiago e Micael, que chegaram por ali. Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço para me abraçar.
- Erm... Meu nome não é Josh! - Disse, e ela afastou o corpo um pouco, me encarando em dúvida. Depois teve mais um ataque de riso.
- Ah, para com isso Josh! Eu posso ter bebido um pouco, mas eu reconheceria você em qualquer lugar! - Ela disse e dessa vez quem riu fui eu. Garota louca!
- Acho que você bebeu demais... - Disse, pegando a garrafa vazia de sua mão, enquanto Thiago ria.
- Josh nem apresenta as amigas... - Micael disse e Amaral gargalhou.
- AHÁ, tá vendo? Ele disse que você é o Josh! Josh, que saudade, Josh! - A loira pulava em minha frente e eu xinguei baixo, só pra que Borges ouvisse e risse ainda mais.
- Acho que ela gosta do seu nome, Josh. - Dessa vez a brincadeira partiu de Thiago. - Qual seu nome, amiga do nosso camarada Josh?
Ela sorriu.
- Charlotte! Mas pode me chamar de Hannah, prazer gatão!
Charlotte? Hannah? Essa aí tinha ingerido muito mais que álcool, vá escrevendo.
- Cara, vou confessar um negócio pra vocês... - A menina encostou no balcão – To muito doida! Tonta, tonta, tonta...
- Realmente ninguém tinha reparado ainda... - Micael disse e eu ri.
- Josh, me ajuda? Preciso deitar antes que eu desmaie!
Os olhos de Thiago arregalaram. Tudo bem, por essa eu não esperava, muito menos ele. Vi um sofá com apenas uma garota sentada, e fiz sinal com a cabeça pra ele, que entendeu o recado, correndo até lá. Passei o braço de Charlotte/Hannah em meu ombro e Micael abriu caminho em minha frente, mas sumiu na metade dele, parando no meio de uma rodinha de garotas. Bufei, e continuei andando. A menina não falava coisa com coisa, e eu comecei a achar que ela precisava mais de um médico do que de um sofá, mas não acho que morreria, então faria o menos complicado. Coloquei-a sentada, mas Charlotte ficava me puxando, ainda rindo e falando coisas sem sentido.
- Ah, Josh, obrigada por me ajudar! Minha vida não seria nada sem você! - Ela disse, os olhos marejados, e puxou meu pescoço, me pegando de surpresa num beijo rápido. Tudo o que eu consegui fazer foi soltar seus braços, e ela caiu para trás, rindo e já conversando com uma garota que estava ali por perto.

- Arthur! Arthur! - Ouvi a voz de Thiago e olhei para o lado.
Não faço ideia de quanto tempo fiquei parado na calçada, olhando para o nada. Quem me visse, devia achar que eu tinha fumado um, ou que estava em estado de choque.
- Cadê a Lua, dude? - Ele perguntou.
- Ela... Ela terminou comigo. - Respondi, ainda olhando para o nada, e Amaral pulou em minha frente.
- O QUÊ?
Seu grito ecoou em meu ouvido, e eu dei um pulo. Devia mesmo estar em estado de choque, deve ser mais ou menos assim que as pessoas se sentem.
- POR QUÊ?
- Para de gritar, caralho! - Dessa vez eu quase berrei – Porque você acha? Por causa da idiota do Josh, lá! Ela viu, e entendeu tudo errado!
- E você tá fazendo o que aqui parado? Vai logo atrás dela!
Ouvi a voz de Ully, não tinha reparado que ela estava por ali. Em um segundo a garota tinha parado um táxi.
- Anda logo, Aguiar. - Ela disse, impaciente, e eu tentei sorrir.
- Obrigado.
Quando cheguei em casa, a sala estava completamente escura. Respirei fundo e corri escadaria acima, indo direto até o quarto de Lua. Mas a porta estava trancada.
- Lu? - Bati na porta – Lu, abre essa porta, a gente precisa conversar!
- Ela não quer falar com você, Aguiar. - Sophia apareceu no corredor e eu dei um pulo de susto. Sei que ela teria rido, se não tivesse um olhar um tanto demoníaco, nunca vira Soph assim.
- Soph, ela entendeu tudo errado, eu preciso conversar com ela! - Falei o mais docemente possível, Sophia sempre fora a mais simpática das garotas comigo, na época em que todas nos pseudo-odiavam.
Mas seu olhar ainda era severo demais. Ela realmente estava convencida de que eu tinha feito o que Lu provavelmente tinha dito a ela. Mas que inferno! Nem me ouve e já sai falando merda por aí!
- Aguiar, não. Não vai conseguir resolver nada agora, sinceramente. - Pra minha surpresa, a voz de Soph era calma – Você está encrencado, amiguinho. É bom que saiba disso. - Antes que eu abrisse a boca pra retrucar, ela bateu na porta.
- Lu, voltei, abre aqui pra mim... - Nenhuma resposta – Amiga, ele não vai entrar, eu prometo! - Dessa vez Sophia me encarou, e por seu olhar entendi que ela queria que eu ficasse longe.
Pobre iludida.
Ouvi o barulho da chave, e Soph ainda esperou um minuto me encarando, até alcançar a maçaneta.
- Aqui fora, Aguiar.
Não respondi nada. Quando ela abriu a porta, vi Lu de costas, com o rosto enfiado nos travesseiros. Ela já vestia um pijama. Antes que eu me movesse, Lua levantou a cabeça e olhou para a porta (provavelmente imaginando que Sophia já tinha entrado e a encostado) e se assustou ao me ver. Seu rosto estava vermelho e molhado. Merda! As coisas estavam piores do que eu pensava.
- Lu, eu... - Entrei no quarto, quase atropelando Sophia, e Lua pegou imediatamente uma almofada, tacando em minha direção.
- SAI DAQUI! - Ela gritou, e quando desviei, percebi que ficou irritada – Sophia, TIRA ELE DAQUI!
- Arthur, eu te falei que era pra você esperar, mas que inferno! - Soph gritou e sussurrou ao mesmo tempo. Não tenho a mínima ideia de como ela conseguiu fazer isso. - Vai, sai daqui!
- Lua, mas que merda, você vai ter que me ouvir alguma hora! Dá pra parar de ser criança? - Gritei, e Lu enxugou o rosto com a mão, depois deu alguns passos pra perto de mim.
- Eu vou parar de ser criança no dia que você aprender a tratar uma mulher como ela merece, tudo bem pra você? - Ela me encarou, e fiz um esforço imenso para não mandar que calasse a boca. Sério, ela estava insuportavelmente sem razão, e aquilo estava me irritando.
- Não diga que eu não te tratei como uma mulher de verdade, porque você estará mentindo, docinho... - Disse, sarcástico, a segurando pelo braço. Nossos rostos estavam próximos demais, e eu já sentia meu corpo me empurrar inconscientemente pra perto do dela. Lu respirou fundo, fechando os olhos.
E então sua reação foi totalmente inesperada. Ela simplesmente deu um tapa na minha cara!
- Eu disse que ACABOU, Aguiar! Sai do meu quarto, ESQUECE que eu existo! - Gritou, se jogando de volta na cama, e eu segurei o rosto, contando até dez. Agora ela tinha passado dos limites! Aliás, estava tão longe do limite, que nem estava mais VENDO o limite!
- Você vai se arrepender de ter feito isso, garota! - Disse, rude, e passei como um furacão por Sophia, batendo a porta com tanta força que o barulho ecoou na casa inteira.
Minha cabeça ia explodir, eu tinha certeza. Meu corpo doía, eu não tinha pregado os olhos a noite inteira. Estava com tanta raiva que era capaz de invadir o quarto de Lua para bater nela, se ela não fosse uma garota. Mas com o tempo eu fui respirando, e comecei a me acalmar – Eu tinha que fazer alguma coisa, ela tinha que saber a verdade, e quando visse que estava errada, ela quem teria que se desculpar. Porque convenhamos, vou me desculpar porque? Eu só queria apagar aquela porra de episódio da minha vida! Estava dando tudo tão certo antes, que chegava a ser estranho. Eu, Arthur Aguiar, também conhecido como o pegador de Londres, estava finalmente me envolvendo por alguém. Ah, quem eu quero enganar? Eu já estava mais do que envolvido... Eu estava... Ah, que merda! Tentei parar de pensar em qualquer assunto que envolvesse Lua Suede e tomei um banho gelado. Coloquei uma bermuda e uma camiseta, e desci as escadas. Melanie estava jogada no sofá, com as roupas que tinha saído para a balada, parecendo exausta. É, pelo menos para alguém a noite tinha sido boa. Quando cheguei na cozinha, dei de cara com Sophia, Thiago, Micael e... É, a Lua. Todos pareceram ficar incomodados quando me viram, especialmente quando Lu olhou pra mim.
- Que cara de merda, Arthur. - Micael disse do nada e eu o xinguei por dentro. Sempre com seus comentários super inconvenientes. Será que ninguém tinha dito nada?
Não respondi, sentei ao lado de Soph, exatamente de frente para Lua na mesa. Ela desviou o olhar quando eu a encarei, e Borges pareceu confuso.
- O que houve com vocês dois? - Ele, como eu imaginava, perguntou. Alguém devia ensinar Borges a manter a merda da boca dele CALADA.
- Porque você não come seu bolo e fica quieto, Micael? - Soph respondeu, quase lendo meus pensamentos.
O silêncio na mesa foi cortante durante uns cinco minutos. Eu tinha que fazer alguma coisa.
- Lu, passa o requeijão? - Merda, Aguiar, alguma coisa menos estúpida, por favor?
Ela levantou o olhar, depois chacoalhou a cabeça, como se estivesse indignada.
- Até onde eu sei você tem as duas mãos em perfeito estado, Aguiar. - Ela sorriu, cínica, e eu senti o sangue correr mais rápido nas veias.
Então é isso. Voltamos a estaca zero.
- Engraçado, uma vez eu fiz isso com você, e você disse que não custava ter um mínimo de educação... - Respondi calmamente, e ela sorriu.
- Você perdeu qualquer tipo de respeito que eu tinha por você, Aguiar. Logo, não merece minha educação.
Outch. Mas que porra.
- Eu bebi demais, acordei vendo flashbacks, não é possível! - A voz de Mel era quase um sussurro.
- Eu não chamaria isso de flashback, amiga. - Lu disse, levantando com seu prato e colocando-o na pia – Eu chamaria de nova realidade.
- Ah, você é tão patética, docinho... - Ouvi minha própria voz dizer, e ela me encarou nos olhos.
- Sou apenas realista.
Lua não deu tempo para que eu a mandasse calar a boca, saindo da cozinha no mesmo instante. Todos me encararam, Micael e Melanie estava pasmos, Soph parecia me culpar com o olhar e Thiago parecia ter pena de mim. Como se pena resolvesse alguma coisa.
Apareci na varanda do meu quarto, e lá embaixo, vi Lua com as garotas na piscina. Micael também estava com elas. Ela parecia estar profundamente entediada e com vontade de sair correndo. Parecia a cara que ela fazia nas aulas de história. Mas porque diabos estou lembrando disso? Resolvi descer até lá – Foda-se meu orgulho. Eu quero que ela saiba a verdade porque aí se sentirá uma merda. Ela merece se sentir assim.
- Hey. - Eu disse simplesmente, sentando na cadeira de praia ao lado da dela – Até quando vai ficar bancando a irritadinha?
Lu não respondeu. Então vi que estava com os fones do Ipod, e é claro que usaria daquele artefato para fingir que eu não existo. Conheço as táticas de Lua Suede como a palma da minha mão. Tirei o fone, e aproximei minha boca de seu ouvido.
- Não acha que minha voz é muito mais interessante? - Sussurrei e depois mordi o lóbulo de sua orelha, vendo que a pele de seu pescoço arrepiou quase instantaneamente. Ah é, esqueci de comentar que também sou muito mau quando quero. Lu virou para mim.
- Melhor do que a voz do Caleb em Reverly? - Ela sorriu largamente – Não acho que seja humanamente possível, meu bem.
- Quer parar com isso e me escutar de uma vez? Estou perdendo a paciência, docinho...
- Eu não me importo. - Ela aproximou o rosto do meu – Eu não quero ouvir a historinha mal feita que o Thiago já fez o favor de me contar. Eu te conheço, Arthur.
E então ela me empurrou sutilmente para trás, e eu caí como uma jaca podre na água.
As garotas começaram a rir escandalosamente, e eu percebi que Micael tentava prender o riso. Chay e Thiago também estavam chegando por ali no momento.
- Hey, maninho! - Lu gritou pra ele, e Chay se aproximou – Lembra daquela vez que você disse que quebraria a cara do Arthur caso ele me magoasse?
Chay ergueu uma sobrancelha.
- Lembro. - Ele assentiu.
- Talvez esteja na hora de você dar outro soco daqueles naquele rostinho... Cínico. - Ela parou no meio da frase. - Não estou magoada, mas estou profundamente irritada.
Ully a encarou como se tudo o que ela dissera fosse uma grande mentira. De repente, senti algo como pânico em mim. Merda, eu não queria ter que bater no Chay!
- Lu, erm... O Thiago já me contou o que houve, na verdade eu tava lá, só não vi exatamente. Eu acho que ele está falando a verdade.
Lua baixou a haste do óculos imenso que estava usando. Não pude conter meu sorriso vitorioso. A garota abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu dizer nada, e então saiu marchando para a casa. Algo me dizia que ela estava começando a acreditar, só não queria perder a razão... Afinal, ela é a Suede de sempre.
Lua não apareceu pra almoçar. O que era estranho, tendo em vista que ela e as meninas estavam organizando uma nova festa na casa, que aconteceria naquela mesma noite, e ela adorava fazer essas coisas. Estava trancada no quarto há horas. Estava com Chay e Ully no gramado, fazendo nada. Eu optei por isso, não iria fazer nada, aquela garota era insuportável. Insuportavelmente linda com o biquíni que ela apareceu no jardim, mas isso eu não ia dizer. Vindo do portão, Micael chegou com uma garota em cada braço, ambas muito gostosas. A Riviera nos amava, isso era fato.
- Trouxe duas convidadas especiais pra festa! - Ele riu – Essa é a Maureen. E essa e a prima dela, Harriet.
O queixo de Chay caiu ao olhar o farto decote de Harriet.
- A lista de convidados foi enviada por email, Micael, você não precisava sair caçando francesas por aí. - Ully disse, incomodada. Por que diabos garotas se estressam quando tem outras gostosas na área?
- Se quiser fazer um menáge, Micael, mantenha as francesinhas fora do alcance do Arthur, ele não é muito confiável. - Lu sorriu, cínica, cruzando os braços. Levantei imediatamente.
- Chega, Lua! - Gritei – Se você quer agir como uma criança e não me ouvir, tudo bem! Mas eu não suporto mais essas suas piadinhas! Não era pra eu fingir que você não existe? Então porque você não faz o mesmo, porra?
Lu pareceu perder a fala, mas logo se recuperou. Claro que ela se recuperou.
- Desculpe informar, Arthur, mas não é porque você teve a chance de colocar sua língua na minha boca que você pode mandar em mim!
- Eu fiz muito mais do que colocar a língua na sua boca, docinho. - Gritei, e não consegui virar pra olhar, mas vi que Chay levantou. Os olhos de Lua estavam marejando, mas eu não me importaria com aquilo.
- É, você fez, e arruinou tudo! Exatamente por isso que você não fará nunca mais! - Ela berrou de volta, ainda segurando as lágrimas.
- Quem disse que eu quero você? Quem disse que eu não posso arrumar uma melhor que você em dois minutos? QUEM DISSE? - Berrei, e dessa vez Chay se intrometeu.
- Dude, porra, olha como você fala com a minha...
- CALA A BOCA! - Gritei pra ele – Sabe o que mais, docinho? - Ri, sarcástico, e aproximei meu rosto do de Lu – Vou arrumar uma agora.
Não sei porque diabos eu fiz aquilo, só sei que eu puxei Maureen pela mão, e a agarrei ali mesmo. A garota não ofereceu nenhuma resistência, talvez ela estivesse esperando por essa reação. Senti meus olhos arderem, mesmo fechados, quando percebi a merda que eu tinha feito. E aquela eu talvez nunca conseguiria consertar. Alguém me puxou, e eu larguei a garota.
Foi tudo muito, muito rápido.
Eu vi Lu correr e ela estava chorando. Vi Micael correr atrás dela, deixando as francesas. Senti o murro de Chay em meu rosto. Mas eu não me movi, quando caí no chão. Eu esperava por aquilo, e pior... Eu merecia.
Thiago chegou correndo, mas não precisou parar Chay, porque ele mesmo já tinha parado.
- Você tá ferrado, Aguiar. E eu não estou falando por mim.
Essas foram as exatas palavras de Chay, quando ele sumiu correndo para a casa, sendo seguido por Ully.
Subi as escadas correndo, Melanie estava me xingando de alguma coisa, mas eu não dei atenção. Bati na porta de Lu, eu precisava falar com ela de qualquer jeito. Eu não deixaria que aquilo fosse o fim, nunca.
- Lu, abre, por favor! - Continuei batendo, e ela estava sozinha lá dentro. Não quis que nenhuma das amigas ficasse lá com ela, coisa que Mel já tinha feito o favor de berrar no meu ouvido.
Respirei fundo.
- Lu, eu sei que eu sou um idiota, eu sei que eu não devia ter feito aquilo só pra te provocar! Mas porra, você me tira do sério! - Disse para a madeira.
- Agora a culpa é minha? - Ela gritou de lá de dentro, com seu habitual sarcasmo – Me erra, Arthur! Eu nunca mais quero olhar pra sua cara!
Dei um murro na parede, totalmente irritado. Ela tinha que me ouvir. Eu ficaria o dia todo plantado em frente aquela porta, mas não daria resultado nenhum, a conheço o suficiente para saber que voluntariamente, nunca me escutaria. Voluntariamente, nunca me daria uma chance pra explicar. Mas que porra, qual o meu problema? Qual o problema dela? Passei as mãos pelos cabelos, sentindo os olhos arderem. Se ela não queria me ouvir por bem, iria me ouvir por mal.
Entrei no quarto de Melanie, indo direto para sua varanda. Pulei para o parapeito que ligava a varanda dela com a de Lua, e em segundos, abri a porta de vidro que separava o quarto. Lu deu um pulo ao me ver. Seus olhos ainda estavam um tanto vermelhos.
- Merda, Aguiar! Quando uma pessoa não abre a porta pra você, significa que ela não quer olhar pra tua cara, não que você tem que invadir o quarto pela varanda! - Ela gritou.
- Eu pedi pra você abrir... - Disse, baixo. Eu queria me aproximar dela, queria enxugar aquela lágrima que Lu se esforçava tanto pra não derramar. Deus, eu estou muito gay. - Por favor, eu só preciso de um minuto, é sério.
Lu rolou os olhos, estava tentando manter a pose de forte. - Eu não me importo com o que quer que você diga, docinho. Sinto muito, seu tempo acabou. Não me controlei, a segurei pelos ombros e a empurrei direto pra cama. Não demorou muito, tempo suficiente para que Lu abrisse os olhos, atordoada, e eu já estava em pé diante dela, a prendendo entre minhas pernas. Ela realmente conseguia me deixar puto.
- Eu não vim aqui pra ver mais uma ceninha patética dessas. - Bufei, segurando seus pulsos – Eu vim aqui falar com você. E você vai calar a boca e me ouvir.
Lu arregalou os olhos, num misto de raiva e surpresa. Tentou me empurrar, mas eu me mantive firme. E ela continuou calada, parecia até um pouco... Assustada.
- Lu, a história que o Thiago te disse... É completamente verdade, aquela garota achava que eu era outro cara! Ela estava totalmente bêbada, sério. - Parei de falar, esperando alguma intromissão típica de Lua Suede, mas ela continuou apenas me encarando firmemente, e aquilo estava dando voltas no meu estômago – E depois... Você não confiou em mim. Eu quis te contar, podia ter sido tudo muito mais fácil! Eu errei, eu não queria ter beijado aquela garota, mas você me conhece... Eu sou meio... Descontrolado.
E ela continuou calada. Minhas mãos gelaram, eu estava suando e meus olhos ardiam. Respirei fundo.
- Me desculpa, por favor.
Lua abaixou o olhar pela primeira vez. Suas mãos também estavam geladas, até um pouco trêmulas. Uma lágrima escorreu por seu rosto, quando ela voltou a me olhar.
- Acabou? - Ela disse, firme. Engoli em seco e assenti – Você poderia fazer o favor de soltar meus pulsos agora, estão doendo...
Lu disse na maior calma do mundo, e meu coração acelerou.
- Arthur, você beijou uma garota na minha frente, e de propósito! - Ela gaguejou – Eu... Eu só preciso que você saia do meu quarto, por favor. Eu não sei o que pensar.
- Lu, por favor... - Sabia que meu rosto devia transparecer toda a minha agonia. Principalmente quando eu senti uma lágrima quente em minha bochecha. Lu limpou as próprias lágrimas.
- Nós nos vemos na festa, Arthur... Me deixe sozinha.
Virei de costas, limpando meu rosto, e abri a porta. Antes de sair, olhei para Lu.
- Isso não está acabado.
- O que? - Ela soluçou.
- Nós. - Tentei sorrir. - Eu não vou perder você, docinho.

[n/a: coloquem Into your Arms, do The maine, para carregar ;D]
A casa estava lotada, mas já não me impressionava mais a capacidade daquelas meninas de fazerem uma festa se tornar o maior hit do verão. Elas deviam trabalhar com isso, sério. O Dj tocava uma música da Ke$ha, a sala estava envolta por luzes e fumaça. Todos estavam bebendo drinks coloridos que um barman que elas tinham conhecido estava fazendo, e Lu não descia nunca! Confesso que não estava ouvindo absolutamente nada do que Thiago me dizia, eu não conseguia parar de olhar a escada, como se isso fosse fazer com que ela aparecesse mais rápido. Chacoalhei a cabeça, tentando prestar atenção em Amaral, quando vi Maureen chegar perto de nós. Merda! Tudo o que eu precisava era essa garota no meu pé agora!
- Oi, meninos! A festa está linda, parabéns! - Ela sorriu largamente, jogando seus cabelos castanhos para trás.
- Ah, então você devia agradecer a uma de nós, queridinha! - Ully apareceu e eu respirei aliviado – Os garotos não ajudaram em nada dessa vez.
Maureen pareceu sem graça, disse qualquer coisa desconexa (desconexa talvez porque eu não tenha prestado um mínimo de atenção) e sumiu.
E no mesmo instante, Lu apareceu na escada. Ela estava com um vestido listrado e sapatos vermelhos, maravilhosa. Senti meu queixo cair, e Thiago riu um pouco, mas eu não liguei. Ela não estava linda. Ela era linda e eu não queria nenhuma das outras daquela sala.

There was a new girl in town (Tinha uma menina nova na cidade)
She had it all figured out (Ela tinha tudo decidido)
Well I'll state something rash (Bom, eu vou dizer algo imprudente)
She had the most amazing... Smile (Ela tinha o mais maravilhoso... Sorriso)

Lu olhou para mim, e ela estava sorrindo, não sei porque. Provavelmente olhando para a própria festa, ou alguma coisa do tipo. Eu simplesmente amava aquele sorriso. Eu também amava outros atributos dela, mas aquele sorriso... Bem, ela poderia conseguir qualquer coisa comigo, e acho que nem sequer sabia disso.

Bet you didn't expect that (Aposto que você não esperava por isso)
She made me change my ways (Ela fez com que eu mudasse meu jeito)
With eyes like a sunset, baby (Com olhos como o pôr-do-sol, baby)
And legs that went on for days (E pernas que andavam por dias)

Quando desceu as escadas cheias de gente, algumas pessoas pararam para olhar. Thiago empurrou meu ombro, e murmurou algo como um “Vai lá”. Não entendi direito, eu não conseguia pensar em nada direito. Andei por entre as pessoas, e ela desceu o último degrau da escada, ficando exatamente em minha frente.
- Oi. - Disse simplesmente – Você está... Wow.
Ela riu, tímida. Estranho, Lu não é alguém que pode ser rotulada de tímida.
- Você também.
- Lu, corre aqui, deixa eu te apresentar um amigo! - Melanie surgiu, e ela pareceu sem graça ao ver que estava entre nós dois.
- Ahn? - Lua pareceu sair de um transe – Claro, claro!
Ela caminhou por entre as pessoas olhando para trás, olhando para mim.
E eu tinha a terrível sensação de que quanto mais longe ela fosse, eu nunca conseguiria a trazer de volta.

I'm falling in love, but it's falling apart (Eu estou me apaixonando, mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)
When we were in love (Quando nós estávamos apaixonados)
Things were better than they are (As coisas eram melhores do que são)
Let me back into... (Me deixe voltar...)
Into your arms (Para seus braços)

Lu deixou Mel sozinha pouco tempo depois, e tentou, no meio de toda aquela muvuca, chegar até o bar. Alguns caras literalmente pararam de falar quando ela chegou perto deles, estavam boquiabertos.
- Lu! - Gritei, me aproximando, e ela me olhou, com um copo de Martini em mãos.
Ela murmurou algo como um “Vem aqui”, me chamando com o dedo. Sorri, sentindo cada parte do meu corpo esquentar, minha pulsação aumentar do nada. Isso não é algo muito feminino de se falar? Bom, dane-se. Ela tinha um sorriso discreto nos lábios, mas era triste. Eu tinha certeza daquilo. Talvez ela também quisesse resolver isso tanto quanto eu. Andei pela pista, vendo algumas pessoas conhecidas, mas meus olhos só focavam no dela, que não desviou o olhar. Quando finalmente a alcancei, segurei sua mão, quase como uma atitude inconscientemente babaca de prendê-la ali. Ela não fugiria mais de mim, não mesmo.
- Eu preciso... Eu preciso que você dance essa música comigo. - Parei no meio da frase, e ela riu fraco, apenas assentindo e deixando que eu a guiasse para o meio da pista.

She made her way to the bar (Ela fez seu caminho até o bar)
I tried to talk to her (Eu tentei falar com ela)
But she seemed so far (Mas ela pareceu tão distante)
Out of my league (Fora do meu alcance)
I had to find a way to get her next to me (Eu tinha que achar um jeito de fazer ela vir para mim)

A abracei pela cintura, e a pele do meu pescoço arrepiou quando sua respiração quente se aproximou. Lua passou os braços em meu pescoço, ainda em silêncio. Ela estava de olhos fechados, e eu não sabia o que falar. Eu só queria que... Bom, isso vai soar meio óbvio e ridículo, mas queria tê-la nos meus braços, e ter a certeza de que não a perderia. Mas eu estava a perdendo, minuto a minuto, e sabia disso.
- Eu não quero perder você. - Ouvi minha própria voz dizer isso, quase em um sussurro, quase implorando. Lu levantou o rosto e me encarou, seus olhos estavam vermelhos, seus dedos gelados tocaram minha nuca.
- Por quê? - Ela sussurrou – Por quê eu devo te escutar? Por que eu devo te dar outra chance?
Sorri levemente. Ela sempre precisava de um motivo, não?
Mas eu não conseguia pensar em nada coerente pra responder. As palavras simplesmente sumiam quando eu mais precisava delas. Lu manteve o olhar fixo no meu, eu sabia que ela procurava alguma reposta ali.

I'm falling in love, but it's falling apart (Eu estou me apaixonando, mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)
When we were in love (Quando nós estávamos apaixonados)
Things were better than they are (As coisas eram melhores do que são)
Let me back into... (Me deixe voltar...)
Into your arms (Para seus braços)

- Porque... - Gaguejei, encostando meu nariz no seu, enquanto apertava sua cintura – Talvez isso fale mais que eu.
A segurei pela nuca, nossos rostos já estavam próximos demais. Pressionei minha boca contra a dela, e ela permitiu, acho que esperava por isso. Cada parte do meu corpo reagiu quando nossas línguas se tocaram, era como se tivesse tomado um choque. De alguma forma, meu coração parecia que ia acelerar ao ponto de parar de vez.
Eu não tinha a perdido, no fim das contas.

Oh she's slipping away (Oh, ela está escapando)
I always freeze when I'm thinking of words to say (Eu sempre congelo quando estou pensando nas palavras para dizer)
Oh the things she does (Oh, as coisas que ela faz)
Make it seem like love (Faz isso parecer amor)
If it's just a game (Se for apenas um jogo)
Then I like the way that we play (Eu gosto do jeito que nós jogamos)

- Arthur... - Lu partiu o beijo, e eu mantive meus olhos fechados, a testa encostada na sua. Conseguia sentir sua respiração falha em meu rosto – Talvez... Talvez esse argumento não seja suficiente.
E então eu abri os olhos. Não, aquilo não era possível.
- Lu, por favor, será que tá difícil de entender que eu amo...
- Shhh. - Ela me calou com um com um um beijo rápido– Eu não sei se isso é certo. Eu preciso pensar.

I'm falling in love (Eu estou me apaixonando)
But it's falling apart (Mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)

Ela correu por entre as pessoas.
Ela correu de mim.
E eu não conseguia sequer sentir raiva, pra ser bem sincero... Não conseguia sentir nada.
Lu parou na escada, porque Thiago a segurou. Ele disse alguma coisa pra ela, tive a impressão que colocou algo em sua mão, e ela continuou correndo.
- Lembra quando eu te disse que se um dia você fizesse minha amiga sofrer, eu ia quebrar sua cara? - Ully apareceu ao meu lado, líndissima com seu vestido verde. Eu só tinha reparado isso agora.
- Lembro. - Assenti de má vontade. Ótimo, tudo o que eu precisava era bronca uma hora dessas!
- Então acho bom você ir até o quarto dela e resolver isso, Aguiar. Ela vai sofrer muito mais sem você, acredite. - Ully sorriu e eu chacoalhei a cabeça.
- Ela disse que precisava pensar, Ully.
- Desde quando você obedece o que a Lua diz? - A garota sorriu – Ela é meio surtada, Arthur. Se eu fosse você, eu iria até lá e...
- Não vai dar certo. - Interrompi.
- Argh, Arthur! - Ully bateu o pé, irritada – Eu estou falando QUE É PRA VOCÊ SUBIR NAQUELA PORCARIA DE QUARTO, okay?
A encarei, assustado e quase rindo do seu descontrole. Coitado do Thiago.
- Porque você tem tanta certeza?
- Só sobe, Aguiar. Você vai me agradecer por isso.
Eu não tinha a menor noção do que estava fazendo. Subi as escadas automaticamente, sem olhar para os lados, e encarei a porta de Lu, com a respiração meio falha. Porque diabos Ully tinha tanta certeza que eu teria que resolver aquilo exatamente naquele instante? Não me dei o trabalho de bater, simplesmente girei a maçaneta. E ela estava lá, de costas. Deu um pulo, assustada, quando me viu ali. E então jogou um papel no chão, e correu até mim. Não tive reação, Lu pulou em cima de mim e me beijou, me fazendo cair sentado na cama. Agarrei seus cabelos, intensificando o beijo, enquanto ela arranhava minha nuca. Mordeu meu lábio devagar, sexy como sempre, e depois encostou a testa na minha, fazendo com que eu a encarasse. - Eu te dei meu coração, Arthur. - Ela sorriu, deixando uma lágrima cair em seu rosto – E você ... Você foi perfeito. 
Eu não estava entendendo absolutamente nada, aquela garota era louca, só podia.
- Eu quero ser aquela garota que você vê. - Ela me beijou devagar – Eu quero ser tudo o que você escreveu naquele bilhete, docinho.
Olhei para o chão, e vi uma folha de caderno e um envelope. E tudo estava muito claro.
- Como? Como isso veio parar na sua mão? - Arregalei os olhos – É meu bilhete da aula de literatura!
Ela riu.
- Thiago pegou naquela confusão com o Brian, na festa da praia. Quando ele leu, teve certeza que... Bom, teve certeza de que um dia eu precisaria ler isso. - Ela suspirou – Eu não mereço você, garoto. Você é bom demais pra mim.
- Para com isso! - Senti meu rosto corar.
- Só estou sendo realista – Ela sorriu – Me perdoa por ser tão idiota?
- Shhhh... Não tem nada pra perdoar. Só cala a boca e vem aqui, docinho.
Eu disse e ela riu, quando deitei meu corpo por cima do seu, beijando-a e deixando que aquele sentimento estranho tomasse conta de mim. Alguém uma vez me disse que isso era estar... Apaixonado? Mas bem, não me interesso por esses rótulos. Só precisava do seu corpo perto do meu, e aquilo tudo teria valido a pena.

A Lua Suede? Ela é uma garota... Difícil de entender. Eu mesmo a conheço há anos, e demorei para enxergar através da cheerleader popular que todos idolatram. Não que ela realmente não tenha esse ego super elevado das populares, porque ela tem, sim. Mas diferente das outras, ela é humana. Ela gosta de conversar com os nerds da classe sobre computador, não que alguém possa comentar isso, é claro. Ela come sanduíches gordurosos quando suas amigas comem alface, e sempre rola os olhos quando algum garoto do time fala com ela, talvez porque eles não tenham cérebro pra falar algo que preste. Ela sorri para as crianças da pré-escola. Aliás, ela tem três dos sorrisos mais bonitos que eu já vi. O sorriso que ela dá quando está incomodada, pode parecer estranho, mas é lindo. E aquele que ela dá quando encontra as amigas depois de um final de semana, cheio de más intenções, também. Esse costumava ser o meu preferido (É, esse bilhete está muito gay, confesso), mas hoje descobri mais um, que é o da Lua-Suede-Tímida. Isso é possível, sim. Nunca tinha a visto sem graça antes. E bom, ela é... Linda. Não que eu vá falar isso pra ela um dia, obviamente. E mesmo ela sendo uma garota incrível, que vive se metendo onde não deve e com quem não deve, ela tem um bom coração. Um dia ela vai encontrar alguém que tenha bolas o suficiente para ser quem ela precisa. Ela acha que não, que nasceu para sofrer, quase uma atriz de novela mexicana. Alguém entenderá que sim, ela é bipolar, estranha. Mas é inteligente e tem um humor ácido que melhora o dia de qualquer um. Que ela pode ser meio louca, mas que quando você bater seu carro e precisar dela, ela vai estar com você. Porque em algum lugar ali, tem uma garota que só precisa que a entendam. E eu não estou dizendo que esse cara sou eu, porque você sabe, a gente se odeia. E eu amo odiá-la, de verdade. Agora mesmo ela está olhando pra mim, e eu vou chamá-la de docinho (só porque ela detesta esse apelido), e ela vai jogar alguma coisa em mim. Eu vou xingar, ela vai xingar, porque isso sim é o certo. Afinal, somos Arthur Aguiar e Lua Suede. E ninguém nunca vai mudar isso.

Créditos: Fanfics Obsession.

3 comentários:

  1. cara, sério escreve um livro logo!! vc nn faz ideia do quanto eu chorei lendo esse capítulo, ta mto perfeita essa web, P A R A B É N S!!!!

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  2. o melhor capitulo de todos os tempos haha ameiiiiii

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