Web Summertime - Capitulo 17




 Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore

Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers. - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deA rthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. Arthur tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de Lua, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - Lu parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, Aguiar passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
Lua parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. Soph, Ully e Chay apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, Aguiar. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e Arthur sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
Arthur lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de Arthur, fazendo com que Aguiar conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, Thiago, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - Arthur retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de Arthur e aproximou-se de Lua. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, Suede - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que Arthur perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. Aguiar levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - Chay, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e Lua apareceu na frente de Arthur, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
Arthur olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas Lu estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
Arthur segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
Lu levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
Aguiar deu um selinho demorado em Lua, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. Thiago olhou para Lu, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. Arthur estava tomando alguma coisa com Chay, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", Suede tinha dito. Era bom que Aguiar apagasse. Na verdade, Amaral achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando Arthur e Lua tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. Micael chegou, fazendo com que Thiago parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - Borges disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - Amaral se apressou em perguntar, e Micael apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
Thiago concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que Arthur tinha prometido à Lua. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", Amaral pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de Lu ou Arthur, ele estaria literalmente fodido.

- Ully, você não tá me entendendo - Lua passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do Arthur ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
Ully suspirou e a segurou pela mão.
- Lu, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de Ully pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
Lua riu pela primeira vez. Micael, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e Lu sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de Ully, e fez o mesmo com Borges.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o Micael chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - Ully gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - Lu sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o Arthur tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de Lu sair por entre as pessoas.

Lua aproximou-se de onde Aguiar estava, fazendo um sinal com a cabeça para que Thiago e Melanie saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - Lu sorriu, sentando no colo de Arthur, que segurava firmemente uma Heineken. Arthur lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, Arthur . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
Arthur encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de Lu. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
Lua abriu um enorme sorriso, e Arthur se sentiu bem. Era assim que devia ser. Lu encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de Aguiar eriçaram pela suavidade do toque de Lua, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
Lua ficou em pé, e Arthur apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
Aguiar rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que Lua tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - Arthur sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra Lu de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. Arthur não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. Lua riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de Arthur, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
Arthur gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e Aguiar o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
Lua não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. Arthur estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou Arthur, e quando foi esmurrá-lo, Aguiar desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - Aguiar disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou Lu pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - Lu gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de Lua, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
Arthur parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - Lu gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - Aguiar murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
Arthur arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, Lua Arthur resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
Lu sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
Arthur sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que Lua quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

Lua estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão deArthur com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para Arthur, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que Aguiar derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, Aguiar. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e Arthur coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
Lua se colocou entre eles.
- Arthur, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando Arthur partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando Lua - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - Arthur acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que Micael e Chay seguravam um Arthur furioso do outro lado. Thiago se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - Amaral gritou, e olhou para Arthur - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
Thiago virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então Amaral sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - Thiago parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. Arthur estava atônito. Lua estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu Ully.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - Thiago fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de Lu, Arthur e os amigos quando Ully completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. Arthur desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para Lu, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que Amaral não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
Arthur sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de Lua, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
Arthur não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de Lua - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então Lua estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
Lu continuou em silêncio, até que Aguiar escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- Arthur - Lu sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
Arthur a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando Lu ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
Aguiar a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
Lua forçou um sorriso, e Arthur sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que Lu fechasse os olhos.
“Vamos, Arthur. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que Lu estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- Arthur, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas Aguiar mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas Lu deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez Arthur rir brevemente. Quem era ele para parar Lua Suede? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de Arthur, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. Arthur sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
Lua o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de Aguiar e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - Lu disparou, e Arthur sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - Lu quase berrou, e Arthur caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - Lua riu, acariciando o rosto dele, enquanto Arthur já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
Lu sorriu largamente e Arthur a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. Lua sorriu, e Aguiar teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
Lu riu, e Arthur continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. Arthur e Lua finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. Lu estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de Arthur coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
Arthur saiu da água com Micael, correndo na direção de Lua.
- Não, Aguiar, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
Lu fez bico e Arthur riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - Aguiar disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
Lu riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de Aguiar. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - Arthur disse, nervoso, e Lu voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e Borges.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - Aguiar ia dizer, mas Mel o interrompeu.
- Arthur, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - Arthur pensou, mas apenas sentou-se de frente para Lu, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. Chay e Thiago saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas Lua... Lua não era boa nisso. Aguiar estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que Sophia estava contando.
- Lu, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam Lua.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- Lu? - Dessa vez foi Chay quem lhe chamou. Arthur estava puto.
- Lua! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - Arthur disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
Lua arregalou os olhos.
- Ótimo, Arthur , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
Lu não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - Soph se intrometeu, mas Aguiar a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, Arthur? - Lua já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
Lua riu tão alto e histericamente que assustou o próprio Arthur.
- Arthur, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - Arthur gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
Lu respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, Arthur. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
Arthur não disse muita coisa. Estava agoniado com Lua tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de Lu em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
Lu não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - Aguiar perguntou e Lu afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? -Arthur sorriu, maroto, e Lu riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - Melanie apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - Chay se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - Mel disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - Thiago e Micael disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - Chay não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - Lu sacaneou, fazendo Melanie corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - Chay disparou, fazendo a cara de Lu fechar e Arthur cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - Aguiar reclamou.
- Claro que não, bichona - Thiago disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, Mel?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - Mel deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - Micael perguntou e Mel o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, Borges.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, Ully - Melanie disse pela quinta vez, e Ully bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, Melanie! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo Soph e Lu rirem, e Mel ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e Ully riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - Sophia perguntou e Lu deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
Melanie estava acertando com o motorista do táxi, e Soph estava com ela. Ully e Lua atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - Lu segurou no braço de Ully , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
Lu não se deu ao trabalho de olhar quando Ully fez sinal para que Mel e Soph fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - Lu gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, Suede.
- Brian, querido - Ully se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, Lages - o garoto disse, e então se virou para Lua. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
Lua sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo Soph, Mel, Chay e Arthur ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e Ully olhou para Lu.
- Eu cuido disso - Lua disse, com a voz firme, e Ully atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
Chay e Arthur simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - Lu disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - Lu logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- Arthur, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado Aguiar, ele continuava com os olhos focados nos de Lu. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - Lu disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, Lu. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para Arthur de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
Lu tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar Arthur.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
Lua sentiu os olhos arderem. Quando Arthur se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para Arthur.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- Arthur, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para Aguiar , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou Arthur com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que Aguiar o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - Arthur respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- Arthur, por favor... - Lu encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, Lua - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
Aguiar o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. Lua tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas Arthur apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando Lu entrou no quarto de Arthur, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- Arthur - Lua conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
Aguiar virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
Arthur arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas Lu conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- Arthur, por favor! - Lua disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. Lua conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. Arthur a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então Lu entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
Arthur riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
Lua sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que Arthur sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, Aguiar, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - Lu sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - Arthur a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. Lua deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de Arthur, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - Arthur saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, Arthur - Lu deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
Arthur riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
Lua tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - Arthur disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - Lu disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
Lu abriu a porta, mas Arthur a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que Arthur conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou Lua lá embaixo, indo até o portão, e gritou - Lu! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, Arthur?
Arthur apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de Lu - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
Lua tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas Arthur a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. Lu tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", Lu pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - Arthur perguntou, quase rindo. Lu sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - Arthur fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
Lua sorriu. E Arthur sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
Lua sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
Arthur ficou contente de Lu não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - Ully disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - Soph choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - Lu concordou, enquanto tirava uma foto com Mel. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - Ully sacaneou - Tudo culpa do Sr. Arthur Docinho Aguiar?
Lua fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
Melanie riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - Lu brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós Suede somos uma delícia!
- Cala a boca, Lu! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - Mel bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, Soph avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - Lu sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - Mel fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, Lu?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. Lua simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - Melanie riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e Lu gargalhou, estapeando seu braço.
Lua caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar Mel com o cabelo, Lu olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - Lu disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - Mel parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
Mel franziu a testa.
- Que cara, Lua? Acho que você está começando a ficar paranóica.
Lu preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde Ully e Soph estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e Soph riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
Lua riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
Lua o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, Lu , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
Lu olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que Arthur chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, Lua! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
Arthur olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - Micael disse - Preciso de um nome gay. Micael Borges é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - Thiago perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - Arthur perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- Arthur. Esses são Chay, Micael e Thiago. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - Micael falou, e Aguiar assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - Arthur falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - Lu reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. Lua não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando Lu ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, Arthur.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu Arthur.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- Arthur! Arthur, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - Arthur, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- Arthur, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - Lua já chorava desesperadamente. Aguiar riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, Lua - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! Arthur gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de Lu bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. Arthur precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - Lu tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
Lua não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
Lu encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando Lu desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com Arthur passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de Arthur, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, Lua - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- Arthur, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - Aguiar gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover Arthur. Lu nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! Arthur, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas Aguiar deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
Arthur olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, Arthur, por favor, pare com isso - Lu disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, Lua - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.


Créditos: Fanfic Obsession.


2 comentários:

  1. caraca nn acredito nisso, aquele puto do Portman conseguiu estragar tudo!!! pfvr faz LuAr voltar! a emoção tomou conta de mim nesse capítulo sério, chorei igual a uma criança, quando o Arthur entrou na dispensa e viu aquela cena!

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  2. tava tudo tão bem até esse tipo aparecer!! estraga sempre tudo. e agora o que vai acontecer com a Lua e o Thur??

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