Web Summertime - Capitulo 19




I guess we're really over, so come over, I'm not over it 

- Ei, Lu, acorda, querida - Lua ouviu sua mãe sussurrar e a chacoalhar. - Primeiro dia de aula.
Lua colocou o travesseiro na cabeça, com raiva por ter sido acordada tão cedo. Já não lhe bastavam as horas de insônia regadas a lágrimas que ela estava cheia de derramar. Devia ter dormido uns quarenta minutos apenas, e agora sua mãe estava ali, a arrastando para fora da cama, para que ela encarasse aquela porcaria de colégio.
Seria fácil fazer isso, mesmo estando um trapo, se ela fosse simplesmente uma ninguém dentro do colégio.
Mas obviamente Murphy tinha uma paixão enlouquecedora por ela, e ela ainda era popular, imitada e teria que discursar em prol do começo das aulas. Dali a dois dias provavelmente suas olheiras virariam moda. Ótimo. Desistiu de lutar contra sua mãe e foi até o banheiro, irritada, tomar um banho quente. Encontrar com Arthur ainda seria o pior de tudo. Não sabia como reagiria, sabia simplesmente que tinha... Desistido.
Lua Suede não desiste. Mas depois de ver o cara que ela tanto ama pronunciar que não confia nela com todas as letras, achou que a melhor coisa a fazer era parar de tentar. Bom, pelo menos parar de tentar fazê-lo acreditar nela. Mas a garota ainda não tinha engolido aquela história de Arthur ter aparecido na despensa. Ela encurralaria Brian, faria de absolutamente tudo, mas descobriria a verdade.
- Para esfregar na cara daquele idiota... - murmurou, enquanto limpava o espelho para ver seu rosto.
Sabia que aquilo era mentira. Ela queria mesmo era que Arthur a visse que estava errado e a "perdoasse". Mas poxa, ele não devia acreditar nela?
Ajeitou os cabelos em um coque mal preso - sabia que Melanie iria dar um chilique ao vê-la assim -, passou um corretivo nas olheiras para dar-lhe ao menos um ar de dignidade, um gloss, e vestiu o uniforme.
Quando desceu as escadas, Chay estava comendo cereal na cozinha.
- Bom dia! - ele disse de boca cheia, e Lu sorriu.
- Bom dia, chuchu! - Ela lhe apertou as bochechas, fazendo o garoto reclamar. - Vamos?
- Come alguma coisa... - ele disse, limpando a boca com o guardanapo. - A Mel vai vir nos buscar.
Ótimo, a bronca do visual desarrumado viria antes do esperado.
- Tenho pensando tanto em mim ultimamente que nem perguntei... Como vocês estão? Digo... Juntos e tal... - Lu perguntou vagamente, vendo o garoto colocar cereal para ela em uma grande xícara. Torceu o nariz, pois esperava que ele tivesse se esquecido do café da manhã. - Estamos muito bem - Chay abriu um sorriso radiante. - Ela é... Bom, totalmente diferente de mim, sabe? A gente não tem quase nada em comum. Mas acho que a graça é essa.
Lu brincou com a colher dentro da xícara.
- Eu estou vendo que você tá enrolando... - Chay disse, e a menina fez careta.
- Você não é a mamãe.
- Mas eu sou. - A Sra. Suede apareceu na cozinha, fazendo Chay gargalhar. - Pode comer.
- Mãe, eu não tô com...
Lua Suede! Você acha que eu já não fui adolescente? Acha que eu nunca perdi a fome por causa de algum namorado? No entanto eu fui obrigada a comer porque percebi que minha vida é mais importante do que um garoto que usa as calças tão caídas que aparecem até a cueca.
Lu arregalou os olhos, e Chay torceu o nariz.
- Ei! Eu também uso calças assim!
- Filho... - A Sra. Suede o abraçou de lado. - Eu te amo e você sabe disso. Mas nunca disse que você tinha um bom gosto para moda.
- Outch! - Lu cutucou, fazendo o irmão levantar o dedo do meio discretamente.
- Cala boca e come, Lua - ele revidou, e Mel entrou na sala, rindo alto.
- Vocês são tão fofos, sabe? - Ela rolou os olhos. - Lua, que coque é esse?
Lu riu.
- Vamos embora, eu como essa maçã - Lu se adiantou, deixando Mel reclamando para trás, vindo de mãos dadas com seu irmão.

Lua e Melanie cumprimentaram vários desconhecidos quando chegaram ao colégio. Chay ficou meio estupefato com tantos olhares - a maior parte deles corria do cabelo amarrado de Lua até sua mão que segurava a de Mel - e aquilo o deixou um pouco assustado. Ficou feliz quando viu Thiago, Ully e Micael em um banquinho onde os garotos sempre costumavam sentar.
- Pessoas conhecidas, amém! - Chay disse, fazendo os amigos rirem.
- Tem pessoas olhando para cá. Não param! - Thiago disse, com um olhar estranho que fez Lu rir.
- Deve ser porque elas não se acostumaram com a ideia de tantas garotas sexies e deliciosas sentadas com um bando de losers... - Ully riu da cara de Amaral. - Losers que são um pouquinho... Bem pouquinho... Sexies.
Lua assistiu os amigos rirem, enquanto olhava em volta, nervosa.
A qualquer momento ele chegaria, obviamente. Ficou feliz em ver Soph se aproximar, mas enquanto sua amiga cumprimentava um a um com beijos no rosto, e depois sentou no colo de Micael, Lu se deu conta de que estava sobrando ali no meio de três casais.
- Adoro segurar vela... - ela murmurou, fazendo Ully rir.
- Awn, amor, você sabe que meu coração é todo seu! - Ully a apertou, arrancando uma risada da menina. - O Thiago é só meu passatempo, você é sempre prioridade!
- Valeu, hein? - Amaral fez um joinha com o dedo, fazendo todos rirem.
- Sorry, querido, eu vi primeiro... - Lu entrou na brincadeira, puxando Ully pela mão. - Toda minha!
Enquanto riam de algumas trivialidades, Mel penteava os cabelos de Lu para deixá-los soltos, e tudo estava num clima muito ameno, até que Micael avistou Arthur atravessando o pátio. Ele era a peça que faltava, é claro. Todos estavam observando as trocas de carinho entre os losers e as populares, e Lu, a mais querida delas, estava lá, sem ninguém. Quando viram Arthur, metade do pátio o acompanhou com o olhar. Lua percebeu uma certa movimentação, e virou a cabeça, sentindo seu coração quase parar.
Lá estava ele, a gravata do uniforme sempre mal amarrada, as calças caindo, como sua mãe bem notaria, Vans nos pés e os fones do iPod nos ouvidos. Ele olhava para o chão, mas não parecia estar com a feição tão acabada quanto a dela. Não tanto quanto ela gostaria, afinal, queria saber se ele também se sentia mal por estarem separados. O único vestígio ainda era a mão mal enfaixada.Aguiar os encarou, e pareceu acordar de um transe, tirando os fones e mexendo na tela do aparelho.
- Bom dia - disse preguiçosamente.
Ully se ajeitou na cadeira. Soph parou de rir das idiotices de Borges, Mel soltou seus cabelos, Chay e Thiago fixaram o olhar em Arthur.
"Mas que beleza!"Lu pensou, irritada. "Isso vai ser pouco incômodo". 
- Bom dia! - Micael respondeu após alguns segundos, e então o resto dos tapados pareceu acordar ao redor de Aguiar, fazendo o mesmo.
- Então é por isso que estava todo mundo me olhando... - Arthur disse com um sorrisinho. - Vocês estão... - Ele apontou para os casais em sua frente.
- Achou que fosse por quê, Aguiar? - Ully fez voz de desdém, mas todos sabiam que era uma piada. Nunca o tratara mal, mesmo quando nem se falavam direito.
Arthur riu. O som da risada dele provocou uma onda de calor dentro de Lua.
- Hum, talvez por eu ficar muito gostoso de uniforme... - Ele sorriu, fazendo os amigos rirem.
O silêncio seguinte não estava previsto. Chay pensou em abrir a boca para dizer algo, mas viu que Aguiar olhara para Lua pela primeira vez desde que tinha se aproximado deles. Ao sentir o olhar deArthur sobre si, Lu ficou paralisada, mas o encarou de volta, e eles ficaram por incontáveis segundos assim, estáticos. A garota coçou o pescoço, confusa, com as mãos gelando. E então Arthur fez um barulho estranho com a boca, chacoalhando a cabeça.
- Eu vou...
- Vai? - Soph provocou, fazendo Micael chacoalhar a cabeça.
- Ali - Arthur respondeu simplesmente, deixando a rodinha.
Lua riu, sem humor.
- Vai ser sempre assim... - disse baixo e Ully a abraçou pelos ombros.
- Claro que vai, até o dia que vocês pararem de ser idiotas. - Ully sorriu com todos os dentes, e quando viu que Lu iria protestar, a puxou pela mão, fazendo o mesmo com disse, arqueando a sobrancelha.
- Eu sei de tudo, meu amor! - Ully riu, presunçosa. - Sei que você tem aula de Geografia comigo, sei que o Chay e a Mel vão cabular aula para ficar se pegando, sei que o Thiago quer me corromper a fazer isso também, e mais importante... - ela fez uma pausa, sorrindo. - Sei que Lua e Arthur serão sempre um casal, mesmo não sendo um casal. O que significa que em breve eles estarão de volta.
Lua ficou boquiaberta, enquanto os amigos riam, mas não disse nada quando foi puxada pelo jardim.

- Dude, para de ser idiota! - Thiago cochichou, enquanto a Sra. Brown passava um vídeo, como ela gostava de fazer nas primeiras aulas. - A Lua não fez porra nenhuma!
Arthur chacoalhou a cabeça, rindo baixo.
- Não, fui eu quem estava lá na despensa com o Brian, né? - disse, sarcástico.
- Isso tudo é orgulho? - Judd riu, sem humor. - Eu sou seu amigo! Eu tô te dizendo que ela não fez nada!
- Ah, fica na tua, dude! Tá escrito na sua testa que você é "Team Lua".
Dessa vez Thiago riu um pouco alto demais, levando um olhar atravessado da professora.
- Team Lua? Para de ser idiota, pelo amor de Deus... - Amaral riu. - Se ela tivesse te chifrado eu seria o primeiro a te apoiar, mas eu acredito na Lu, sabe? Coisa que você deveria fazer.
Aguiar bufou, e então virou para Thiago pela primeira vez.
- Faz o seguinte? Cuida da SUA vida e para de falar merda, antes que eu me irrite com você - Arthur disse, sério, e Thiago chacoalhou a cabeça.
- Tá escrito na SUA testa que você é "Team Lua" - ele provocou, sorrindo. - Só que eu não sabia que você era tão idiota de cair na do Brian e perder a única menina que você realmente quer. -Amaral olhou para a tela. - Mas é melhor eu cuidar da minha vida, mesmo... Só não diga que eu não avisei quando você...
- Cala a boca! - Arthur sussurrou, nervoso, e virou para frente.
Thiago apenas riu. Sabia que o amigo estava louco de vontade de correr até a sala de Lu e agarrá-la. E também sabia que tinha o irritado o suficiente para que ele ficasse com uma pulga atrás da orelha. Score. Mais cedo ou mais tarde, ele cairia na real.

Ao deixar a aula de geografia, Lu e Ully caminharam juntas até o outro prédio. Tinham aulas diferentes, mas iam para o mesmo lugar. Borges tinha ido para o ginásio onde teria sua temida aula de educação física.
- Ah, droga! - Lu parou de andar, fazendo Ully a encarar.
- O que foi?
- O Micael esqueceu o celular dele comigo... - Lua girou o aparelho na mão, com cara de sono. - Vamos lá entregar?
- Ih, amiga, bem que eu queria ficar passeando, mas tenho aula do Sr. Thompson... - A simples menção do nome do professor de álgebra fez Lu torcer o nariz, e Ully rir.
- Então não se atrase, não dê mais motivos para aquele cara te odiar - Lua riu. - Aliás, ele nos odeia acima da média dos professores. Tenho medo.
Ully gargalhou.
- É porque nós somos gostosas e ele não! - Ully disse, rindo, e então correu pelo corredor.
Lu caminhou devagar, olhando para dentro de algumas portas entreabertas das salas. Chegou ao ginásio em poucos minutos, e logo avistou Micael, devidamente sentado na arquibancada e com cara de tédio, enquanto todos os garotos começavam a se aquecer. Aquela imagem a fez rir.
- Seu celular, tontinho esquecido - ela disse, e o garoto riu.
- Também te amo, Lu - ele disse, enquanto a menina sentava ao seu lado. - Não tem aula agora?
Ela deu de ombros.
- História da arte.
- Aqui é educação física - o garoto disse, divertido, levando um beliscão.
- Tá me expulsando, Micael Borges? - Lua disse com uma voz afetada, e os dois riram.
Não demorou muito para que Lu virasse o olhar e visse quem estava entrando na quadra. E uma corrente de ódio tão gigantesca cresceu dentro dela que Micael não conseguiu segurá-la quando ela atravessou a quadra até Brian.
- Hey! Não vejo você desde... - ele ia dizer, com um imenso sorriso, quando a garota fincou as unhas em seu braço.
- Cala a boca! - ela disse baixo, mas com a ira transbordando na voz. - Vem comigo, agora!
- Eu tenho aula, querida, não posso... - O cinismo de Brian estava quase lhe causando um colapso. Ela o empurrou com força em direção às escadas, quase fazendo com que o garoto tropeçasse.
Lu, calma... - Micael apareceu ali, e ela não o olhou.
- COMO VOCÊ PÔDE FAZER AQUILO? - Lu berrou, ouvindo o eco de sua voz no corredor. Respirou fundo, pois não queria dúzias de caras suados correndo na direção deles. - Você vai me dizer AGORA como é que...
- Eu não sei o que você está falando.
- BRIAN! - A menina gritou de novo, fazendo alguns garotos quase pararem de correr. - Brian. Portman. Não. Me. Faça...
- Vai fazer o quê? - ele riu. - Nada que você possa fazer vai mudar alguma coisa... - ele sorriu largamente -, docinho...
Lua não conseguiu ouvir mais nada. Acertou um murro na bochecha de Brian. Um murro, não um tapa. Ele pareceu assustado com a reação, gemendo como uma garotinha, e segurando o rosto claramente marcado pelo enorme anel que a menina usava.
- Ai, meu Deus! - Micael a puxou - Lu, você vai pra detenção, vamos sair daqui...
Brian riu, ainda segurando o rosto.
- Você é mais homem do que seu ex-loser.
- Cala a boca, seu idiota! - Lua se desvencilhou de Borges. - Antes que você tome outro desses, é melhor você falar logo como que você conseguiu armar aquilo tudo!
Brian se aproximou dela, sorrindo.
- Eu não armei nada. Você entrou lá porque quis. Você me beijou de volta porque quis.
Lua quase gritou de ódio. Não acreditava que ele estava dizendo aquilo. Queria o quê, que Borges se virasse contra ela também?
Foi quando ouviu uma risada bem característica em suas costas, e entendeu tudo.
- Bela direita, docinho - Arthur sussurou perto do ouvido de Lu, que ainda estava de costas. - Da próxima vez, tente fazer isso dentro de uma despensa, e quem sabe o próximo idiota que te namorar acredita em você?
Lu virou para Arthur, que ainda estava ali perto, com Chay. Não sabia o que ele tinha ouvido - muito provavelmente só o que Brian tinha dito - mas ele tinha visto o soco, nem que fosse de longe. Devia pelo menos cogitar que ela podia ter razão. Ou, do jeito que a mente de Aguiar andava distorcida, devia achar que era tudo outra armação. Mas ela estava com raiva. Pela primeira vez desde o ocorrido, sentiu apenas raiva de Arthur. E uma vontade crescente de também marcar seu anel na cara dele.
- Dispenso sua ironia, Aguiar - ela sorriu, sarcástica. - Você quer uma marca do meu anel na sua cara para combinar com a mão enfaixada que você ganhou ao socar o espelho... Porque... Ah, sim, porque você me ama tanto que só consegue agir como um merda?
Arthur ficou paralisado, mas logo se recuperou.
- Isso não tem nada a ver com você.
Lua riu.
- Claro que não. Tem a ver com sua insegurança e orgulho. Tem a ver com sua idiotice - ela riu. - Está tudo bem. Quando você perceber que errou, pelo menos terá uma cicatriz pra se lembrar disso. Pra sempre - ela o encarou. - Para sempre, o dia em que você me perdeu... docinho.

Dois dias tinham se passado após a cena envolvendo Brian no pátio. Lua ainda não sabia como fazer o garoto falar a verdade, no entanto, estava com tanta raiva de Arthur, que isso parecia menos importante.
Estava com raiva por ele não ter corrido atrás dela, por não ter acreditado nela, por não ter sequer demonstrado que estava abalado com as coisas que ela tinha dito. Quem via de fora, parecia que nada tinha mudado.
Parecia que eles tinham ido e voltado os mesmos da Riviera. As mesmas briguinhas inúteis, os mesmos olhares de fúria, era como ter acordado no passado.
- Bom dia, coisas lindas da Lu! - A garota saltitou até os amigos, e eles riram. - Como estão?
- Muito bem... - Thiago beijou a bochecha da menina. - Você que parece estar radiante.
- Nada como uma boa noite de sono ouvindo John Mayer. - Ela sorriu. - Aquela voz sexy no meu ouvido a noite inteira, tem como não dormir com os anjos?
- Tem certeza que era o John Mayer? Aposto que você só estava sonhando comigo - Aguiar apareceu, com um sorriso cínico estampado no rosto. - Aposto que você estava pensando em como era sexy ouvir minha voz no seu ouvido, agora que você não tem nada. - Ele gargalhou, e então a segurou pela cintura, sussurrando com uma voz quase pervertida: - Docinho. 
Lua não deixou que um sorriso vitorioso se formasse nos lábios de Arthur, quando ele percebeu que a pele do pescoço da menina tinha arrepiado.
- Ah, querido, você está enganado... A voz do John me faz dormir, porque ela é sexy, é suave... É a voz de um anjo. - Ela sorriu, acariciando o rosto de Aguiar com uma das mãos. - Da última vez que eu cometi o erro de lembrar da sua voz, passei a noite nauseada e correndo para o banheiro. Sabe como é, você perdeu o efeito, baby - E então ela o imitou, sussurrando em seu ouvido: - Sua hora já passou, docinho.
Lua abriu um largo sorriso ao ver o garoto desnorteado em sua frente.
Não se lembrava do quanto era boa nas brigas com Aguiar.
O sinal tocou, e todos se levantaram, ainda meio abalados com a cena que tinham presenciado.
- Alguém tem aula de literatura agora? - Aguiar perguntou, e logo viu a expressão satisfeita de Lu cair por terra. Ah, não! Arthur não aguentaria duas aulas seguidas com ela.
Aquilo era uma merda, uma grande merda. Literatura de novo. A aula que os juntou, ali, de novamente, com ela. E só com ela.
Mas Arthur não teve tempo de processar a ideia. Viu Lu andando sozinha pelo corredor cheio de alunos, a caminho da aula, e bufou, depois de sentir um tapinha nas costas e ouvir a risada de Thiago.

Quando chegou na sala, havia um lugar disponível bem atrás da carteira de Lu. Havia outro, bem em frente à mesa da professora. Resolveu escolher a primeira opção, mesmo quase certo de que ficar encarando a Sra. Brown o tempo todo era menos torturante do que o que ia fazer. Lua não se moveu quando ele sentou. Continuou conversando com uma cheerleader japonesinha que estava ao lado dela. Arthur lembraria o nome daquela garota, se por acaso prestasse atenção nas garotas com que ficava antes... Dela.
- Bom dia, classe! - A Sra. Brown entrou na sala. - Muito bom revê-los! Tive uma experiência muito boa com alguns de vocês em nossa última aula antes das férias.
Aguiar ouviu Lua bufar e rolou os olhos.
A senhora começou a aula, mas Arthur não conseguia prestar atenção em nada do que ela dizia. Lua estava se movimentando desconfortavelmente na cadeira, como se quisesse sair correndo dali. Ela pegou um lápis no estojo e começou a fazer um coque.
"Não... Não"Arthur passou as mãos nos cabelos, sentindo o perfume da menina enquanto ela enrolava o cabelo.
Ela terminou rapidamente um coque perfeito, todo preso, e Arthur teve que conter o impulso maluco que teve de tocar sua nuca descoberta. Ela sabia ser sexy até sem querer. Aquilo não estava lhe fazendo bem, se ficasse mais dois minutos encarando seu pescoço, faria algo de que se arrependeria. Viu Lu cochichando com a japonesinha e subitamente lembrou o nome da garota. Respirou fundo, aproximando o rosto do ombro de Lua, que levou um susto.
Aguiar, o que diabos você... - a menina virou um pouco o corpo, mas ele fez sinal de silêncio com os lábios.
- Relaxa aí - disse, seco, e virou-se para o lado. - Autumn, certo?
A garota sorriu, visivelmente empolgada por ter sido lembrada por ele.
- Certo - ela disse baixo.
- Quanto tempo não nos falamos. - Arthur continuou com o queixo apoiado na curva do pescoço de Lua, para falar com Autumn. Aquele perfume estava o matando.
- Deve ser porque você parou de me ligar - a japonesa respondeu, e Arthur ouviu a risada de Lu, acompanhada de um pedido de silêncio da professora.
- Espere aí - Arthur murmurou para Autumn, e pegou um papel, escrevendo qualquer idiotice. Então, tocou o ombro de Lua, que virou, nervosa.
- O que você quer, garoto?
Arthur não respondeu nada. Apenas estendeu o papel dobrado e fez sinal com a cabeça para que ela o passasse para Autumn. Ela girou os olhos discretamente, mas passou na maior pose de quem não ligava.
Até mais ou menos o quinto papel.
- Escuta aqui, Aguiar! - ela disse, nervosa. - Se você quer ficar paquerando no meio da merda da aula de literatura, faça você mesmo, pare de encher meu saco! - Lu viu a cara de susto de Autumn, e então amoleceu. - Desculpe, querida. Não é nada com você. É que...
- Eu sei. - Autumn sorriu. - Vocês se odeiam. Todo mundo sabe.
Lua e Arthur trocaram um olhar muito breve, mas ficaram quietos.

- Hey! - Soph correu até Lua, na hora do intervalo. Tinha tido uma aula de matemática sem nenhum dos amigos, mas qualquer coisa era melhor que Arthur a importunando.
Quem ele pensava que era pra ficar trocando risinhos com uma garota qualquer na frente dela?
Lu, como foi a aula com o...?
Lua não deixou que ela acabasse.
- Insuportável. Me deixe perto dele por dois minutos e eu juro que choco a cabeça dele contra a parede - Lu disse tão séria que fez Sophia rir. - Tá maluca? Perdeu a noção do perigo? - Lua colocou a mão na cintura, e Soph engoliu o riso.
- Desculpa, é só... Engraçado.
- O que é engraçado, Sophia? Esse pentelho infernizando minha vida?
- Não - Soph disse, quando as duas já avistavam seus amigos. - Você tendo ataques de ciúme.
- EU TENDO O QUÊ?
- Ela tendo O QUÊ? - Thiago a imitou, e Lu só ficou mais puta.
- Ataques de... - Soph ia dizer, mas o olhar de Lua a interrompeu. - Tá, parei, parei.
Sentaram para comer em uma mesa quase no centro do pátio. Essa mesa sempre foi delas, mas ultimamente andava frequentada pelos garotos. Enquanto Micael e Chay faziam uma guerra de comida que quase acabou em tragédia - sujando o cabelo de Melanie, que provavelmente processaria ambos - Lu pareceu engasgar.
Arthur estava sentando na mesa com Lisa James, duas outras líderes de torcida que Lu não reconheceu, e Autumn. Ele pareceu sentir o olhar sobre ele, pois olhou pra ela no mesmo instante. Arthur estava abraçando Lisa pelos ombros, enquanto Autumn ria. Lu desviou o olhar, tomando um longo gole do suco, e fingiu não ter visto nada.
Mas ele fez questão de, cinco minutos depois, vir andando com Autumn pendurada em seu pescoço até eles.
- Hey, peraí, baixinha! - ele riu, e Autumn também.
Ah, agora com ela é apelidinho fofo?
- Hey... Dude! - Micael disse com uma voz estranha.
- Gente, essa aqui é Autumn, lembram dela? Vocês devem conhecê-la por causa do...
- Time de cheerleaders - Soph acrescentou de má vontade. - A gente sabe.
- Posso sentar aqui com vocês? - Autumn perguntou, olhando especificamente para Lu.
Mal sabia que isso não era a melhor coisa a ser feita. Lua engoliu o ódio e sorriu largamente.
- Mas é claro, meu anjo, você é sempre bem-vinda.
A cara de Arthur foi impagável. Ele não conseguiu deixar de transparecer o choque.
- Tudo bem mesmo? - perguntou, com a voz meio estranha. Lu sorriu novamente.
- Claro que sim.
Todos estavam meio boquiabertos encarando Lu. As meninas nem tanto - sabiam da capacidade da amiga de fingir muito, muito bem quando queria. Era uma atriz, no fim das contas.
O intervalo foi até bastante fingidamente agradável. Quando o sinal tocou, Lua percebeu, pelos horários, que tinha educação física com as amigas. Menos mau. Uma hora inteira de fofocas e quase nada de suor - já que elas sempre davam um jeito de fugir do principal - parecia perfeita para tentar liquidar os sentimentos sádicos que estava criando em relação a Aguiar.

- Hey, Chay, estou indo pra casa, precisa de carona? - Lu perguntou, chegando ao lado de Soph no fim das aulas. Ele negou.
- Vou almoçar com a Mel em algum lugar, depois vamos ao cinema... Quer vir?
Lua riu.
- Não, obrigada, não gosto de segurar vela. - Antes que ele protestasse, continuou: - Aliás, tenho uma pesquisa enorme de filosofia pra fazer. - Ela torceu o nariz.
- Ai caramba, ainda tem essa! - Soph bateu na testa, e Lu riu. - Bom, eu vou pra casa também. Te ligo mais tarde, tá? - Ela beijou o rosto de Lu, e depois o de Chay.
Lua se despediu do irmão e andou por entre os carros do estacionamento do colégio. Avistou seu New Beatle amarelo, que era fácil de encontrar, e dirigiu-se até ele. Enquanto abria o carro, viu, mais adiante, Arthur e Autumn.
Eles estavam encostados no capô do carro que ela reconheceu como o de Lisa. Autumn estava entre as pernas de Arthur, e eles conversavam perto demais. Ele a segurou pela cintura e a puxou, depois olhou para o lado. Bem na direção do New Beatle. Autumn fez com que ele olhasse pra frente de novo, e o beijou.
Lu entrou no carro rapidamente, sentindo os olhos arderem e uma sensação de raiva e nojo tomou conta dela. Saiu arrancando com o carro, quase atropelando duas garotas que estavam por ali. Não olhou para trás. Não daria esse gostinho a Aguiar.

Arthur mordeu levemente o lábio de Autumn, separando o beijo.
A garota sorriu, satisfeita. Era realmente muito bonita. Se fosse em outros tempos, ele estaria orgulhoso de si mesmo.
- Hey, eu vou para casa... - Arthur disse baixo, e a garota fez bico.
- Se você quiser, podemos ir para a minha... Eu sei... Cozinhar - Autumn soou quase pervertida, e Arthur chacoalhou a cabeça, rindo.
- Claro que sabe - ele piscou. - Mas realmente preciso ir. Tenho trabalho de física.
- Ah... - Autumn acariciou seu rosto. - Eu posso passar na sua casa mais tarde?
- Hm... - Arthur olhava para o nada, enquanto a garota se pendurava em seu pescoço. - Não dá. Desculpe. Tenho outras coisas pra fazer.
Ele não esperou que Autumn protestasse. Deu um beijo em sua bochecha, e desencostou do capô do carro, ligando os fones do iPod. Encontrou seu carro e partiu pra casa, ignorando o celular que tocava, já com Autumn ligando.
Quando entrou em casa, jogou a mochila em uma poltrona e se jogou no sofá. Esticou o braço e apertou o botão da secretária eletrônica.

"Arthur, querido, é a mamãe. Como você está? Nunca mais me ligou! Bom, eu volto no fim da semana, como você sabe. Quando chegar, quero ver os potes de comida que eu congelei para você todos vazios, ok, meu amor? Ah, não durma muito tarde e não esqueça os deveres de casa. Amo você. Me ligue assim que ouvir isso, beijos." 


Rolou os olhos, deletando a mensagem. Ligaria para ela assim que tivesse paciência, coisa que já nem sabia mais o que era. Caminhou até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando uma garrafinha de Heineken. Puxou a porta do congelador, vendo pilhas e pilhas de comida congelada ali dentro. Fez uma careta. Amava a comida da sua mãe, mas tudo que andava colocando no estômago era Doritos ou Ruffles, e mesmo assim, quase nunca. Não conseguia comer. Era ridículo, simplesmente não tinha fome. Tomou mais um gole da cerveja, voltando ao sofá, e ligou o som bem alto. Os vizinhos andavam reclamando disso? Que se fodam todos eles. O celular vibrou na mesa e ele se irritou ao ver uma mensagem de Autumn. Mas que porra era aquela? O que aquela menina queria tanto com ele?
Não era quem ele queria. Não era dela que ele esperava uma ligação.
Arthur não conseguia fazer nada em casa. Parecia um marionete no colégio, cheiroso e que dava em cima das garotas, só pra esfregar na cara de Lua. Só queria saber se ela se importava. Tinha vontade de bater em si mesmo quando se pegava pensando nela vinte e quatro horas por dia, olhando as fotos estúpidas que estavam na câmera, mas que ele não tinha coragem de passar pro computador, e ouvindo músicas que marcaram as férias.
Ele era uma garota, só isso explicava. Não era possível sofrer e querer alguém tanto assim.
Gay, muito gay.
Cada vez que ele dizia algo pra ela, parecia que seu coração ia parar de bater, e quando ela revidava, irritada, tudo o que ele pensava era em agarrá-la ali mesmo. Onde estivessem.
E ao contrário disso, ficava dando bola para líderes de torcida biscates e pegajosas.
Como ele queria Lua. Só ela o entendia.
Aqueles assuntos de Autumn? Preferia conversar com um poste. Os beijos dela eram muito bons, mas para ele, era mecanizado, como colocar uma camiseta dentro da máquina de lavar. Não é algo que você quer fazer, mas você faz. Não tinha vontade de arrancar as roupas dela do nada, ou de gritar qualquer idiotice para fazê-la rir. Não ficava com a imagem fixa do sorriso dela em sua mente quando tentava dormir.
Honestamente, não queria porcaria nenhuma com aquela garota.
Arthur jogou a garrafa vazia no lixo, subindo as escadas para trocar de roupa. Era possível que suas próprias roupas lembrassem Lua?
- ARGH! - gritou, nervoso, e se jogou pra trás na cama.
Ele acreditava nela, Thiago estava certo. Algo dentro dele sempre disse que ela não estava mentindo.
Mas agora já tinha colocado os pés pelas mãos e não sabia mais como agir. Ainda não suportava a imagem dela com Brian, mas e se... E se fosse tudo uma armação maluca, mesmo?
Desceu as escadas, pegando o telefone para ligar para sua mãe - antes que ela concluísse que ele estava morto - quando tocaram a campainha. Xingou Autumn mentalmente, mas abriu a porta, e tropeçou em uma caixa. Quando olhou para para o outro lado da rua, tomou um susto ao ver Lu abrindo seu carro.
- O que diabos é isso? - gritou, olhando para a caixa e depois para ela. Lu sorriu, sem humor.
- Isso? Isso sou eu deixando você pra trás, Aguiar. - Ela entrou no carro e partiu, deixando-o com cara de nada olhando o horizonte.

Arthur colocou a caixa na mesa de centro. Respirou fundo anets de abrir. Claro que sabia que não era uma bomba ou algo do tipo, mas ainda assim não sabia o que pensar. Sentiu o estômago rodar quando encarou seu relógio, um urso de pelúcia que ele havia lhe presenteado, dois CDs e um pedaço de papel - a carta de literatura - e... a blusa vermelha.
A blusa que ela fez tanta questão o verão inteiro, a blusa pela qual eles "brigaram" o tempo todo.
E então soube que estava realmente acabado. Ele tinha a perdido de vez.

Arthur não conseguira dormir aquela noite. Rolou de um lado para o outro na cama durante horas, pegou o celular e discou um certo número pelo menos três vezes, até que conseguiu apagar por pouco tempo. Não ouviu o despertador, e sim sua mãe. O que era estranho, não era para ela ter voltado. Depois de levar uma senhora bronca por não ter se alimentado direito, conseguiu a desculpa perfeita: se atrasaria para o colégio. Colocou o uniforme rapidamente, e quando ia apagar a luz para sair, avistou a blusa vermelha. Respirou fundo, dobrou-a e a jogou na mochila.
Aquilo não era mais dele. E ele iria devolver para quem realmente "merecia a guarda".
Dirigiu sem prestar atenção na música que tocava no rádio, até chegar ao colégio e estacionar numa vaga qualquer. Avistou as cheerleaders de longe e tentou se camuflar no meio das pessoas para que não o vissem. Acenou para Micael e Soph, que estavam sentados no jardim, enquanto procurava Lu com o olhar. Ao correr os olhos pela mesa dos jogadores de futebol, arregalou os olhos. Ela não estava sentada com eles. Estava em pé, conversando com um cara que ele reconheceu como goleiro do novo time, rindo e contente.
E ela não tinha o visto.
Logo, estava realmente se divertindo. Mas o pior não era isso: ela estava vestida com o moletom de universidade do cara.
Arthur sentiu o ódio correr nas veias, ao passo que a blusa vermelha pareceu pesar na mochila. Andou até onde Lu estava, pegando-a pelo braço.
- Agora eu entendo porque você fez tanta questão de devolver aquela merda de blusa! - ele disse rapidamente, e Lu fez um sinal com a mão para o jogador, empurrando Arthur para longe.
- Você tá maluco, Aguiar? Quem você pensa que é para chegar pegando no meu braço e falando comigo desse jeito? - Lu disse, irada, e Arthur riu.
- Sou o idiota que chegou a pensar que você podia estar falando a verdade! - Arthur estava falando alto demais. Lu pareceu atordoada, mas respirou fundo, puxando o braço.
- Você é apenas o idiota que terminou comigo e não confiou em mim - ela disse, ríspida, e o coração de Arthur foi até a boca. - Vá fazer showzinho de ciúme com a sua "baixinha" - Lu fez aspas com os dedos, rindo. - Você não tem mais o direito de se incomodar com quem eu ando, com o que eu visto ou qualquer coisa do tipo.
O goleiro se aproximou dos dois.
- Esse cara tá te incomodando, Lu? - perguntou, com a voz grossa. Lua riu, negando.
- O passado não me incomoda. - Ela olhou para Arthur da cabeça aos pés. - O passado eu esqueço.
Lua virou as costas, voltando para o grupinho de jogadores e algumas líderes de torcida, deixando Arthur para trás com a pior das sensações que já tinha conhecido na vida. 

Aquele dia tinha sido longo demais para Aguiar. Ao estacionar o carro na garagem, lembrou que sua mãe estaria em casa para encher mais seu saco. Perfeito.
- O passado eu esqueço... - murmurou, nervoso, batendo a porta do carro.
Quando entrou na sala de estar, sentiu o aroma de frango assado vindo da cozinha. O leve palpitar no estômago o deixou momentaneamente animado.
- Olá, amor! - sua mãe lhe deu um beijo na bochecha, limpando as mãos no avental. - Estou cozinhando o almoço! Por que você não avisou que seus amigos viriam?
Arthur olhou para trás. Que amigos?
- Mas meus amigos não vem pra cá, vem? - perguntou, confuso. Chay, Thiago e Micael costumavam avisar quando iam se enfiar em sua casa, ainda mais pra almoçar.
- Não, amor, seus amigos da França!
Arthur franziu a testa. Amigos da França? Sua mãe só podia estar bêbada.
- Eles estão na sala de TV. Chegaram há meia hora.
Aguiar preferiu não interrogar mais sua mãe, e curioso, andou rápido até a sala de televisão. Escutou um barulho do que parecia ser Maroon 5, que ele comprovou ao ver o clipe deles na televisão. E logo em seguida... Cory?
- E aí, cara? - Cory levantou para cumprimentá-lo.
- O que você...? - Arthur não precisou terminar a frase, ao ouvir a risada de Sparks.
- Vim consertar uma certa merda que aconteceu no meu aniversário...
Arthur rolou os olhos.
- Você veio DA FRANÇA só pra falar aquela mesma história que a Lu...
Arthur calou a boca quando a porta do banheiro abriu.
Caiu instintivamente para trás, olhando com os olhos arregalados para a garota que saiu do banheiro. Ela vestia um vestido rosa claro rodado e simples, sapatilhas claras e estava de cabelo solto. Mesmo assim, Aguiar não demorou dois segundos para lembrar dela.
Emma. A garçonete.
Claro! ELA!
A menina não precisou abrir a boca para ele se tocar da merda que tinha feito.
Arthur? - Cory perguntou, preocupado, e ele chacoalhou a cabeça.
- Me diz que você não... - Arthur respirou fundo. - Me diz que você não fez o que eu tô pensando que você fez.
Emma abaixou os olhos. Vasculhou algo na bolsa, com as mãos trêmulas, e jogou quatro notas de cem libras na mesa de centro. E a caixinha da pulseira que ele tinha comprado pra Lua.
- Desculpe, eu...
Arthur começou a lembrar de tudo que Lua havia lhe dito.
De cada lágrima que ela tinha derramado e das horas de seu dia que passou tentando entender o que tinha acontecido. Sentiu-se um merda. Um terrorista devia se sentir melhor perto dele.
- MAS VOCÊ... - Arthur berrou, depois baixou o tom de voz, lembrando de sua mãe na cozinha - O Thiago te parou! A gente te ofereceu ajuda... Você não... COMO?
Arthur, calma... - Cory disse baixo. - Ela vai explicar...
- Cara, você não sabe o que eu fiz por causa dessa porra de história! - Aguiar se descontrolou, e Cory fez uma careta.
- Eu sei o que você fez.
- Olha, eu sei que vocês me pararam... - Emma interrompeu. - Foi tudo muito fácil, mas se vocês não tivessem feito isso, eu teria parado vocês! Eu ganhei quatrocentas libras... Mas nunca consegui usar... Eu juro que não sabia o que estava fazen...
- AH! - Arthur interrompeu, exasperado. - Que tipo de pessoa aceita uma grana de alguém pra "levar um cara pra despensa" e não sabe o que tá fazendo? Achou que ia ter o que lá? Gremlins cantando? Uma festa surpresa? CARALHO!
A garota escondeu o rosto com as mãos.
- Eu não pensei que isso fosse acontecer, desculpe! - ela disse alto. - Eu não sabia que vocês se amavam! Achei que era uma brincadeirinha idiota e que eu ia ganhar uma grana fácil! Quando eu vi sua cara, quando eu vi o estado dela, eu...
- E PORQUE VOCÊ NÃO DISSE LOGO?
- O Brian, o Ian e o John estavam lá, eles podiam... Sei lá, cara! - Arthur abaixou o rosto, em silêncio. - Eu recolhi a pulseira quando ela saiu correndo atrás de você. Fiquei mal por dias pensando nisso, e então fui até a casa do Cory. Eu juro que não fiz por mal.
Arthur chacoalhou a cabeça.
- Tanto faz se você é uma mula e fez isso ingenuamente ou se é o capeta na forma humana - Arthur levantou a mão para que Cory não o interrompesse. - O que importa é que você me fez perder alguém que eu nunca vou ganhar de novo.
Os olhos de Aguiar ardiam.
Lua nunca iria o perdoar. E ela tinha razão, claro que tinha.
- Mas... Ela queria que você soubesse a verdade, não queria? É pra isso que pedi para o Cory me trazer aqui. Agora vocês podem se entender, se você quiser eu falo com ela... - Emma estava visivelmente envergonhada. Arthur chacoalhou a cabeça.
- Você não sabe o que eu fiz. Você não sabe o que eu disse pra ela. Ela vai me odiar pra sempre.
Cory aproximou-se de Arthur, dando um tapinha em suas costas.
- Você só vai saber se tentar.

Arthur largou Cory e Emma em sua casa. Sua mãe o mataria, claro, mas não estava se importando. Sua mente estava a mil por hora, não sabia nem como estava respirando direito. Dirigiu mais rápido do que o considerado aconselhável até a casa de Lua. Ao andar até a porta principal, parecia que ia desmaiar de tanto nervoso. A caixinha da pulseira estava no bolso do casaco. Se fosse um anel, pareceria até outra coisa. Tocou a campainha duas vezes seguidas, e enfiou as mãos nos bolsos, ansioso.
Talvez Chay ou a mãe deles abrisse a porta e ele pudesse respirar.
Talvez... Não.
Lu abriu a porta tomando uma Coca Cola. A cara de espanto dela teria sido hilária, se o momento fosse outro. Aguiar encarou a camisola cor de rosa minúscula que ela vestia e todos aqueles sentimentos de sempre tomaram conta.
- O Chay está na Melanie - Lua disse, empurrando a porta para fechá-la.
Arthur pressionou a porta para trás, quase fazendo-a tropeçar.
- Eu vim falar com você - disse, baixo. Mal conseguia encarar nos olhos de tanta vergonha.
- Eu não tenho nada para...
- Mas eu tenho - ele disse, a olhando pela primeira vez. Lua coçou o pescoço, como fazia quando estava desconfortável. - Eu sou um idiota. Me perdoa?
O queixo de Lu caiu, ela obviamente não esperava por aquilo. O encarou, em silêncio, com uma expressão indecifrável.
- Você bebeu, Aguiar? – perguntou, e ele riu baixo.
- Não. Nunca estive tão sóbrio - respondeu prontamente. - Lu, me desculpa, eu sei que devia ter acreditado em você, mas a situação era difícil pra mim, e agora eu sei que...
- Como você chegou a essa conclusão? - ela o interrompeu, cruzando os braços.
- A Emma veio até minha casa com o Cory.
- Quem diabos é Emma?
- A garçonete que... - Arthur parou de falar. Lua começou a gargalhar, sarcástica.
- EU NÃO ACREDITO NISSO! - ela gritou, mas ainda rindo. - Você teve que ver a menina que armou com o Brian pra acreditar em mim? - Lua ficou séria de repente, e Aguiar engoliu seco.
Podia não ter mencionado Emma. Burro!
Lu, por favor, não faça isso... Eu estou aqui pedindo desculpas, eu não consigo ficar sem você... - ele susssurrou. - Esses dias foram os piores de todos. - Arthur a segurou pela cintura, puxando-a pra frente. - Eu preciso de você. Eu te...
- Cala a boca! - Lu disse séria, empurrando-o para trás. - Sabe, queridinho... Alguém muito sábio me disse uma vez que nessas horas o amor não vale de merda nenhuma.
Arthur engoliu seco, aproximando-se de novo.
- Esse cara era um idiota.
- Esse cara É um idiota. - Lua disse, nervosa. - Você disse na minha cara que NÃO CONFIA EM MIM! E agora vem aqui com essa cara de cãozinho caído da mudança e acha que vai ficar tudo bem? - Ele percebeu que ela tremia. - NÃO VAI FICAR TUDO BEM!
Arthur queria apertá-la contra si. Queria fazer tudo aquilo que sabia que não ia conseguir viver sem. Ela era tudo pra ele. E dessa vez podia ter estragado tudo pra valer.
Lu, por favor... - Arthur aproximou-se, o pânico tomando conta. - Eu sei que eu não mereço estar aqui pedindo isso, mas... Poxa, se fosse você no meu lugar, você...
Eu te daria uma chance de explicar. Eu te daria um voto de confiança - Lua respondeu rapidamente.
- Fácil pra você dizer - ele disse, um pouco alterado. - Não foi você que viu o que eu vi!
Lua rolou os olhos, nervosa.
- Eu te dei todas as chances do mundo, Arthur! Eu pedi, eu implorei, eu me rastejei... E você simplesmente ignorou isso tudo! Que porcaria de amor é esse? - Lua o empurrou para trás, nervosa. - Eu não quero ouvir nada do que você tem pra falar, você poderia ter feito tudo diferente... Nós acabamos, Arthur. - Ela deixou uma lágrima escorrer. - E a culpa é toda sua.
O baque da porta parecia ser muito maior do que realmente foi, pelo menos para ele. Sentiu os olhos arderem, mas não era hora de chorar como uma bicha. Correu em volta da casa, escalando uma árvore, e se jogou na varanda de Lua, que estava aberta.
Ela deu um grito, pegando um travesseiro e tacando em sua direção, mas esse passou direto e caiu lá embaixo.
Arthur! SAI DA MINHA VIDA! - ela gritava, nervosa. - Não era pra eu esquecer que você existe? FACILITE! - Lu chorava, e Arthur a segurou pelos dois pulsos, colando seu corpo no dele.
- Não é pra você me esquecer... – sussurrou. - Porque eu amo você. E eu não vou te perder.
Arthur sentiu os pulsos firmes de Lu amolecerem, e ela derrubou uma lágrima.
Ele soltou o pulso esquerdo, ainda segurando o outro, e colou seu corpo no dela. Acariciou seu cabelo e rosto, sentindo-a tremer com seu toque. Quando percebeu que ela não ia mais reagir, a puxou de vez para si e soltou o outro pulso. Mordiscou seu lábio inferior, e ela entrelaçou os dedos em seus cabelos, apoiando a outra mão em seu peito.
Em seguida, o empurrou com tanta força que ele bateu as costas contra o vidro da porta da varanda.
- O que você...? - Arthur perguntou, a voz realmente sentida, como se seu prêmio tivesse sido lhe tirado das mãos.
- Saia do meu quarto. Por favor - ela sussurrou.
Lu...
- Você não pode consertar as coisas assim, Aguiar... - ela disse baixo, limpando o rosto. - Eu não quero saber. Você teve sua chance. E não é um beijo que vai levar embora toda a dor que você me causou.
Arthur não se aproximou. Sentiu o rosto esquentar, a cabeça rodar, tudo o que fosse de ruim junto. Os olhos marejados de Lua doíam nele. Como podia ter sido tão estúpido?
Apenas tirou a caixinha da pulseira de dentro do bolso, e colocou na cama. Lu pareceu surpresa, mas não perguntou nada. Apenas jogou-a de volta, com desdém.
- Mude a tira que tem escrito docinho para baixinha e seu prejuízo não será tão grande.
Lu, a Autumn...
- Não quero saber.
Arthur sorriu, sem humor, com uma tristeza visível.
Caminhou até a varanda e pendurou-se na árvore para descer. Quando chegou lá embaixo, percebeu que não seria assim. Ele simplesmente se recusava a deixar que terminasse assim.
- EI! – gritou. - Lu!
A menina apareceu na varanda, em silêncio. Ele sorriu largamente. Não estava confiante. Sabia que podia já tê-la perdido. Mas as lágrimas de Lu, a dor dela... Só provavam uma coisa: ela ainda o amava. E ele não ia desperdiçar isso.
- Eu vou ter você de volta! – gritou. - Eu vou virar essa cidade de ponta cabeça, eu vou fazer o que você quiser, mas você vai voltar pra mim.
Arthur...
- Porque nós podemos ser passado... - ele sorriu. - Mas meu futuro é com você. Escreva isso, docinho


Créditos: Fanfic Obsession.

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